Revista da ESPM

quatro vezes menor do que a da própria China (em torno de USD 4,5 mil), não pode depender apenas da tecnologia da informação ou de serviços de call center como a força-motriz do crescimento econômico. E, caso não possa, como assegurar então que o crescimento que se vê agora se mantenha apesar das evidentes limitações que assolam o país? Avisar os russos Apesar de ter se tornado um novo país depois da queda da União Soviética, a Rússia ainda se ressente “do que foi” – ou pelo menos dos recursos que detinha no contexto do que foi aquela união. A URSS constituía uma Rússia acoplada de diversos outros territórios e na- ções – assim como dos recursos naturais, hu- manos e estratégicos que advinham da forço- sa união das chamadas repúblicas socialistas soviéticas. “Aquela” Rússia desapareceu e foi “substituída” por uma Rússia ainda hesitan- te, capitalista na medida do possível, porém politicamente provocadora e saudosa da influência até mesmo sistêmica que exercia sobre o mundo. Como a China, “aquela” Rús- sia ostentava um sistema econômico antagônico ao capitalismo ocidental, se ex- cluindo do jogo “de mercado”. A Rússia de hoje aderiu ao capitalismo, porém de forma bastante peculiar e sem lograr uma reconversão construtiva de seu aparato tecno-militar. Contrariamente à China, a Rússia tem uma economia muito pouco diversificada, dependente de exportações de commodities energéticas – tais como o petróleo e o gás. O peso do Estado ainda é muito grande na Rússia e em muitos casos isso parece ter impedido o dinamismo característico da livre iniciativa em áreas estratégicas – tais como a de pesquisa e desenvolvimento, ainda domi- nada por mentes e hábitos da era soviética. O problema da Rússia parece ser o de como olhar para a frente quando a classe política e as elites ainda parecem olhar para trás. O saudosismo da Grande Rússia (com ou sem a União Soviética), combinado à lerdeza em buscar vias alternativas à dependência das exportações energéticas, atrapalham o desen- volvimento russo na medida emque engessam o país no tempo. Devaneios militares ainda são possíveis, além dos já engajados, e seguirão sendo inconsistentes comas aspirações de uma nação que, apesar de ter declinado em estatura internacional, precisa buscar um lugar seguro na economia mundial. Deus é brasileiro É verdade que o Brasil não figura muito bem em diversos rankings internacionais. Somos o 58 o colocado no ranking de competitividade do World Economic Forum e 127 o no Doing- Business do Banco Mundial. Temos todas as grandes reformas por fazer e enquanto isso ostentamos um sistema tributário dos mais onerosos do mundo (2.600 horas por ano tratando de completar formulários e/ou pagar impostos), estamos atrasados em ter- mos de infraestrutura e logística (ainda que tenhamos sido escolhidos para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas) e sofremos com taxas de juros e de câmbio que nos punem rotineiramente. Tudo isso é muito conhecido e, infelizmente, depende em grande medida de decisões políticas que são difíceis de serem tomadas por aqueles que deveriam tomá-las. No entanto, não deveriam ser os outros BRICs que nos façam inveja. A China, apesar de já ser a segunda maior economia do mundo, Devaneios militares ain- da são possíveis, além dos já engajados, e se- guirão sendo inconsis- tentes com as aspira- ções de uma nação que, apesar de ter declinado em estatura internacio- nal, precisa buscar um lugar seguro na econo- mia mundial. R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 42

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