Revista da ESPM
MÁRIO MARCONINI PresidentedoConselhodeRelações Internacionais da Fecomércio, Diretor deNegociações Internacio- nais da Fiesp e Professor Associado da ESPM. Foi economista da OMC. ES PM figura como 27 a colocada na lista do Global Competitiveness Index, enquanto a Índia e a Rússia estão em posições semelhantes às nossas, respectivamente, 51 o e 63 o . Em temas cruciais, tais como a carga tributária e traba- lhista, nossa situação, apesar de insustentável em termos absolutos, também não parece tão crítica em relação aos outros BRICs (tanto Ín- dia quanto China têm uma carga de impostos e contribuições sociais como porcentagem do lucro acima de 63%, em contraste aos 69% do Brasil e aos 49% da Rússia). Nos quesitos saúde e educação, os mais reveladores de desenvolvimento humano, o Brasil (76 o ) está melhor do que a Índia (107 o ) e a Rússia (87 o ) em saúde e do que a Índia (85 o ) e a China (60 o ) em educação superior e treinamento. Somos uma grande e vigorosa democracia, que respeita o Estado de Direito, que busca a inclusão social como objetivo de Estado e que assegura a liberdade de seus cidadãos – dentre as quais a de imprensa. Isto é mais do que se pode dizer da China e, em certa medida, da Rússia. Não temos conflitos étnicos ou religio- sos, não temos relações arriscadas com nossos vizinhos, até porque adotamos como forma de conduta a integração de nossa região – ainda que com seus naturais percalços conjunturais. Isto é mais do que se pode dizer da Índia. Nossos problemas são enormes, porém são solucionáveis no contexto da democracia que ostentamos com tanto orgulho. Com efeito, a maior crítica que nos auto-fazemos é a de que, apesar de sermos democratas, não tenhamos ainda logrado fazer as reformas necessárias. Alguns dizem que os Estados Unidos inven- tam, a Índia programa, a China produz e a Europa consome; que o Brasil “sobra” neste contexto, e que poderia sobrar cada vez mais, a menos que tome alguma providência urgente sobre suas insuficiências. Difícil concordar com tal premissa quando se trata de um país que, além de ter atingido um equilíbrio inte- ressante entre a política e a economia, situa- se em posição privilegiada para no mínimo alimentar o mundo e provê-lo com opções tradicionais e alternativas de energia. O Brasil neste sentido detém ativos importantíssimos e só “sobrará” se errar ou negligenciar muito em suas opções de política pública. Dificilmente o Brasil não será parte significativa das grandes soluções do mundo futuro. O futuro do “B” de BRICs é tão incerto quan- to o de seus parceiros de sigla e depende, como para eles, das opções de política públi- ca que fizer ao longo do tempo. No entanto, o Brasil reúne condições muito favoráveis, por vezes mais favoráveis que as dos RICs. É necessário valorizar isso como premissa do trabalho que o país deve realizar, com pragmatismo e objetividade. O Brasil necessita de grandes reformas em sua estrutura econômi- ca, mas, enquanto isso, ostentamos o sistema tributário mais oneroso do mundo. março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 43
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