Revista da ESPM
rio como sendo a família patriarcal, que estabeleceuasbasesdopoderaristocrático evirtualmente ilimitado.Centralizandoo poder na figura dopatriarca, a família co- lonial forneceu a ideia da normalidade do poder, da respeitabilidadeedaobediência irrestrita, fornecendo o modelo moral, quaseinflexível,queregulaasrelaçõesen- tre governantes e governados até os dias dehoje.” (Freitas, 1997:46). Seguindoessa trilha de Gilberto Freyre, uma das contribuições mais importantes da obra de Roberto DaMatta, segundoobrasilianistaThomas Skidmore (2003), foi a valorização de duas características funda- mentais do padrão de comportamento e hábitos dos brasileiros: o jeitinho e a malandragem. Para DaMatta, esses componentes da culturabrasileira expressam, de forma singular, umhibridismo en- tre, de um lado, a nossa incapacidade de lidar com as leis e a ordeme, do outro, o nosso desejo de ser (e admirar aqueles que são), umanaçãoordenada, regradaemqueas instituições funcionemperfeita- mente. Construímos umEstadopersonalista com umaparato clientelista, defensor dos interesses de poucos emdetrimentodobem-estar demuitos ao invés de um Estado institucional e impessoal de caráter generalizante (istoé, umEstadopara todos e não para poucos). Disso, exemplos não faltam e se proliferam cotidianamente na grande mídia. Modernizar tem um preço Como se viu, da tríade estruturante do jogo de forças da Sociedade Moderna (Estado, Sociedade Civil e Mercado), parece que só conseguimos pensar na “Modernidade Econômica” como um elemento isolado, desprezando o fato de que esta tríade é sistêmica e, como tal, seus elementos possuem uma interdependência estrutural (in- clusive das outras esferas – filosófica, científica, tecnológica etc.). Estamos a caminho de realizar um grande “so- nho nacional” de ser uma economia de ponta, na íntegra da racionalidade capitalista. O que parece que ainda está longe de se concretizar é o enfrentamento do problema de que, se realmente quisermos lograr esta modernidade econômica, precisaremos alcançar aModernidade no sentido pleno do termo, isto é, em todos os campos e não somente no econômico. Énessesentidoqueareferidaperguntadodelegado HélioLuzseapresentacomoumametonímiadessa lógica:estaríamosdispostos,comosociedade(enão somente como Estado ou como Mercado), a arcar comoscustosdesseprocesso?Abrirmãodenossos personalismos (nossas redes de relações, nossas vantagens, nosso senso de hierarquia etc.), emde- trimento dos interesses coletivos? Tudo indica que não temos dúvida que queremos a modernidade econômica. Mas o fato, fartamente observado nas relaçõessociaisepolíticasdoBrasilcontemporâneo, é que não a estamos construindo (pelo menos no seusentidopleno),nessasoutrasesferas.Queremos usufruir asvantagensebenessesdaModernidade, mas não estamos dispostos a arcar com os verda- deiros sacrifícios para que ela aconteça. É interessanteobservar, quandosecomparaocaso brasileiro com o coreano, por exemplo, que fica bemevidente a sustentação para este argumento. Teria aquele país alcançado os patamares que alcançou no desenvolvimento do seu capitalismo senão tivesse resolvido(emtermosdemoderniza- ção), na raiz, os seus problemas sociais e políticos? Issoé igualmenteválidoseobservarmosopróprio desenvolvimento histórico do Capitalismo como sistema: nãoé coincidenteque as nações quemais propiciaram o seu florescimento e usufruem do seu desenvolvimento são justamente aquelas em quemaciços investimentos embem-estar coletivo e na consolidação de um Estado menos patrimo- nialista, personalista, clientelista emais ‘racional’, ‘impessoal’e‘público’(nosentidoestritodotermo), ocorreram de forma inexorável. Finalizando, parafraseandoWeber: se, deumlado, a sociedade depende da economia capitalista para Construímos um Esta- do personalista com um aparato clientelista, de- fensor dos interesses de poucosemdetrimentodo bem-estar de muitos, em vez de um Estado insti- tucional e impessoal de carátergeneralizante(isto é,umEstadoparatodose não para poucos). Disso, exemplosnão faltamese proliferamcotidianamente na grande mídia.
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