Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 85 } O Brasil não é uma promessa, mas um polo de atração de investimentos que, no ano passado, somaram US$ 49 bilhões. ~ SÉRGIO – Uma das questões do BRIC é a qualificação da mão de obra e as condições de trabalho. Notamos que, se o Brasil colocar toda a sua produtividade em dia, não haverá prof issiona is pa ra isso − é o chamado “apagão” da qualificação profissional. WALTER – Nosso grande proble- ma é que estamos mais atrasados que os outros. Na Rússia e na China a escolaridade, pelo me- nos a básica, avançou muito. Na Índia, pelos dados que conheço, a educação técnica existe por meio de uma casta de pessoas que de- senvolveu muito a questão de ser qualificado. Estão qualificados embora nem todos os indianos estejam nessa situação. GRACIOSO – Recentemente um usineiro de açúcar indiano com- prou algumas usinas em São Paulo e deu uma entrevista comparando os dois ambientes. Segundo ele, a mão de obra de uma usina de açúcar na Índia ocupa, por tone- lada produzida, seis vezes mais pessoas do que no Brasil, o que mostra que também não estamos tão mal assim. WALTER – Certamente, ele não está verificando uma usina meca- nizada, talvez porque hoje, com a proibição das queimadas, grande parte do processo no Estado de São Paulo seja mecanizado. E aí está havendo um processo de reconver- são do antigo boia-fria em opera- dor de máquina ou ainda motorista de caminhão – um investimento que precisa ser feito nesse tipo de trabalhador. Sua intervenção mostra o exemplo de uma usina de cana-de-açúcar em São Paulo, onde teríamos a possibilidade de crescer ainda mais nesse setor, por meio do etanol e do bicombustível. Temos um aceno sobre o chamado pré-sal, mas o Brasil parece que não consegue pensar duas coisas ao mesmo tempo. As duas são energia alternativa e renovável. A Petrobras investiu muito porque o fornecimento para o Japão exigia transformar Mato Grosso do Sul e Goiás num g rande canav ial. As melhores terras de São Paulo se transformaram em plantações de cana. A questão que se coloca em termos naciona is é: temos condições de pensar em várias al- ternativas e apresentar, no caso da energia, várias saídas (eólica, bi- combustível e pré-sal)? A pergunta é mais na linha da qualificação profissional. Estamos atrasados na educação, sem dúvida. O último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) mostra que não estamos atrasados em mate- mática, ciências, língua pátria e interpretação de leitura. Mas ele estabelece uma graduação: 6 é a pior e 1 é a melhor. No caso da me- lhor – 1 e 2 – apenas 1% dos bra- sileiros estão classificados dessa maneira no PISA, que é uma me- dida mundial. Enquanto no Chile e no México, esse índice é de 8,6%, ou seja, não só a nossa educação é ruim em termos quantitativos, mas os melhores são poucos e aí entra tanto a escola pública quanto a particular. O grande problema que precisa ser enfrentado é a qualidade da educação no Brasil. SÉRGIO – Roberto, por que nas falas e textos que tratam dos pro- blemas estruturais tem-se a ideia de que o Estado é o grande vilão? O Estado é o ator principal para remover esses obstáculos para que o Brasil realmente vá em frente, ou a sociedade civil tem um papel próprio que não está exercendo? ROBERTO – O papel que se dá a essa imagem de vilão vem da consciência de que temos a inefi- ciência do setor público, em termos de atividade e funcionalidade. De fato, o tamanho da máquina bu- rocrática e o custo do governo no Brasil é muito elevado e apresenta uma baixa relação custo-benefício. Se considerarmos que 36% do PIB estão alocados para o setor público e o que temos de retorno à sociedade, nas áreas de educa- ção, saúde ou mesmo infraestru- tura, o resultado é muito baixo. Além disso, essa ineficiência da máquina pública e a alta carga tributária geram uma quantidade de impostos, que é absolutamen- te irracional. A qualidade desses impostos também é péssima pelo aspecto cumulativo, pelos resí- duos tributários que sobram na
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