Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 86 cadeia produtiva. E mesmo aquelas ativ idades constitucionalmente imunes, como é o caso da educação ou da exportação, acabam tendo resíduos tributários significativos que oneram o custo de produção e tornam nossos produtos e serviços pouco competitivos. É nesse papel que o Estado é o vilão: pelo baixo retorno que ele atribui aos custos que a sociedade paga. Muitas ve- zes, o Estado também ignora ou finge ignorar que é a sociedade quem custeia o setor público. Por diversas vezes já estive em discus- sões no Ministério da Fazenda e na Receita Federal, e parece que o dinheiro brota em árvores – eles se esquecem de que somos nós que colocamos o dinheiro lá den- tro e que o serviço público tem de estar a serviço da sociedade, como o nome diz. Certa vez, em uma audiência pública no Senado, perguntei aos Senadores: “Afinal, temos de saber quem manda no País: o governante eleito ou a burocracia instalada?” Porque a burocracia instalada muitas vezes nem obedece ao governante eleito. Eles se arvoram na capacidade, na autoridade de decisão e ignoram até o desejo, a vontade daquele que foi eleito pelo povo, democra- ticamente, de fazer aquilo que foi prometido no discurso. Ele chega lá e se sente incapaz de conduzir a máquina pública, que tem a sua própria autoridade quase que nata e intocável, que não deixa, enfim, mudar certos parâmetros e para- digmas no Brasil. Não podemos ter o ufanismo ilusório de achar que o Brasil é uma maravilha e está tudo resolvido. Ao contrá- r io, temos mu itos problemas. Mas também não podemos ter a “síndrome do vira-latas”, como dizia Nelson Rodrigues. No Bra- sil, sempre temos um sentimento de baixa autoestima, parece que estamos sempre atrás dos outros. No século XXI vejo dois temas absolutamente predominantes e que nas próximas décadas trarão preocupação e muito debate, que são energia e alimentação – inse- gurança energética e alimentar são temas, hoje, de primeira grandeza em todos os fóruns. Vejo o Brasil com uma opor t unidade mu ito grande de se sobressair. Mas isso não é uma certeza. Depende do que viermos a fazer, já que temos de corrigir muitas coisas no País. A oportunidade que temos de nos sobressair no século XXI como uma nação poderosa em termos de suprimentos de alimentos e energia posiciona o Brasil até aci- ma dos BRICs, porque creio que podemos vir a ocupar um local de mais destaque do que Rússia, Índia e China. Para concluir, dou outro exemplo de dependência entre Brasil e China. Muitas vezes ameaçamos fazer algum tipo de defesa comercial e sempre tem a voz: “Precisamos tomar cuidado porque a China pode retaliar em cima do Brasil”. Isso é absoluta ilusão. A China não tem como retaliar sobre o Brasil porque é a China que depende do Brasil e não o Brasil que depende da China. Eu ficaria muito satisfeito, na FIESP, de ver a importação de } Temos uma série de questões a resolver. E não adianta ficar falando mal da China por causa da invasão de produtos chineses. ~

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