Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 87 } Na década de 70, quando começamos os primeiros movimentos de processos de integração que levaram ao Mercosul, o Brasil era um terço do PIB da América do Sul. Hoje, responde por 56% do PIB da região. ~ produtos chineses declinar e parar de concorrer de forma tão desleal com a indústria brasileira. Agora, como a China poderia abrir mão do suprimento de soja e minério de ferro no volume que compra do Brasil? Se deixar de comprar minério de ferro do Brasil, vai comprar de quem? Não existe. Não há país que substitua o volume de minério de ferro fornecido pelo Brasil. O mesmo se aplica à soja: “Vou comprar dos Estados Uni- dos”. Pode até ser que encontre umas 30 milhões de toneladas, o que é muito difícil. Mas se comprar dos Estados Unidos, outros países deixarão de comprar porque a soja não é multiplicável nessa veloci- dade e o Brasil passará a fornecer para esses outros países. Estamos numa posição muito tranquila e precisamos ousar mais. E, nesse aspecto, é uma crítica que faço não só ao governo, mas ao próprio setor privado: é preciso ter mais segurança, mais firmeza nas ne- gociações e entender que o Brasil pode e deve fazer melhor as suas relações internacionais e não ficar numa posição às vezes subservien- te diante dos nossos parceiros. É preciso fazer prevalecer o interesse nacional acima de tudo, como os chineses fazem. A relação com a China é uma relação tensa porque os chineses sobressaem do inte- resse nacional de forma absoluta. LUÍS AFONSO – É impressio- nante como a sigla BRIC pegou. Nos perguntamos se realmente isso faz sentido, já que são países tão diferentes. O fato é que essa sigla é verdadeira na percepção dos investidores estrangeiros. Por conta disso, o Brasil não é uma promessa, mas um polo de atra- ção de investimentos que, no ano passado, somaram US$ 49 bilhões, montante que o País nunca havia recebido antes. E isso logo após uma crise, da qual vários países ainda estão se recuperando. Nossa participação no fluxo global de investimentos diretos também aumentou: em 2006 t ínhamos 1,3% do investimento global no mundo e hoje temos 4,4%. Ou seja, de fato a percepção de BRIC é muito verdadeira perante os investidores, por conta da energia e da alimentação, mas principal- mente por fatores de demanda interna, como consumo e serviços. É possível perceber o reflexo da mudança social pela qual o Brasil está passando: nos últimos cinco anos, trinta milhões de brasileiros passaram das classes D e E para a classe C. Nos próximos três anos, dezoito milhões de brasileiros vão também para essa condição. Vale lembrar que dezoito milhões de pessoas é a população do Chile. Na percepção dos investidores, o Brasil é visto como um grande consumidor e é justamente aí que os problemas começam. Ainda somos, apesar de tudo, um país pobre que não pode se dar ao luxo de já ser um consumidor em última instância de produtos chineses, asiáticos e europeus, de substituir Estados Unidos num momento em que o ajuste é feito na economia americana. Isso já se reflete, em termos econômicos, em déficits e transações correntes, ou seja, há uma luz que aos poucos vai se tornando amarela, depois laranja, até chegar na cor vermelha, caso essa situação persista. Temos aí um desafio de que não estamos dando conta. O que somos? Somos BRIC melhores, piores? Há alguns países, além dos BRICs, com os quais podemos nos comparar. Vejo a Coreia, por exemplo, um país que em 1970 tinha uma renda per capita 30% abaixo da brasileira. Hoje, 40 anos depois, a Coreia tem uma renda per capita 50% superior à brasileira e não somos nós que agora estamos chegando mais pró- ximos. É a Coreia que está se supe- rando e aumentando sua renda per capita muito mais rápido do que a nossa. Quais são os desafios que temos pela frente? Resolver an- tigos problemas. Temos questões tributárias sendo discutidas desde antes da Constituinte, as questões
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