Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 88 } O prestígio aumentou porque o Brasil está muito presente e é demandado nos fóruns internacionais naturalmente. ~ de educação também são muito conhecidas. Se sabemos quais são os problemas e discutimos as soluções, por que não avançamos? Aí, realmente, não tenho uma resposta clara. Há poucos meses, tivemos uma eleição presidencial em condições que talvez não te- nhamos tido nos últimos 50 anos. Primeiro, uma situação econômica muito favorável, com estabilidade de crescimento por mais de cinco anos e uma situação política de abertura democrática. Em 2010 tínhamos condições mais do que ideais para discutir todos esses temas e infelizmente percebemos que essa discussão não aconteceu, os candidatos não conseguiram introduzi-la na sociedade. Mas a questão do que queremos dentro da classe política talvez seja o ponto importante para avançar- mos. Enquanto não transferirmos esse debate para a classe política, vamos ter muita dificuldade para avançar nos próximos 50 anos. RENATO – O Data Popular estuda o consumidor e as classes C e D nesse espírito. E o fato é que o Brasil representa um ponto fora da curva. O conceito que levou à c r iação do BR IC não fa lava simplesmente do potencia l de crescimento dos países, mas no potencial de negócio entre os paí ses. Na verdade, a força do BRIC está mais na capacidade de gerar negócios com economias com- plementares do que no Brasil, na Rússia, Índia e na China de forma individual. Daí o BRIC poderia ser uma grande potência e já vimos que isso está muito aquém do que poderia estar sendo utilizado. Por mais que essa ideia avance, um movimento conjunto de negócios ent re Brasil e os out ros ainda está muito abaixo do que poderia existir. E o que existe é mais de concorrência do que uma comple- mentação de negócios. Quando se fala da China e da Índia, falamos na casa dos bilhões de consumi- dores e, quando vemos a questão de escolaridade, na verdade, não é que a China tenha uma escolari- dade fantástica, é que ela tem um bilhão de pessoas e 100 milhões que est uda ram a lém. Quando verificamos a escolaridade média da Índia ou da China, o índice é baixo, principalmente na Índia onde se tem um índice de analfa- betismo gigantesco. Muita gente fala inglês, o que facilita o desen- volvimento da área de serviços. E como estamos falando de um país na casa do bilhão, é fácil encontrar 100 milhões de qualificados, o que ainda não exclui o baixo índice médio de escolaridade. Por outro lado, existe a questão demográfica que influencia fortemente a rela- ção dos países. O Brasil está no que chamamos de auge do bônus de- mográfico, da janela demográfica, que é o contingente maior de uma população economicamente ativa, em idade de trabalhar. Temos mais aposentados do que crianças. Esse auge do bônus demográfico acon- teceu há 40 anos na Coreia e é um dos motivos de crescimento da- quele país. Também aconteceu no Japão no pós-guerra e nos Estados Unidos durante a década de 30. Agora, está concentrado no Brasil na classe C e vai acontecer na Índia daqui a 20 anos e na China em 15 anos. Temos uma população en- trando em idade economicamente ativa maior, que procura desespe- radamente ser mais qualificada. Por outro lado, cresce o número de alunos da classe D que estão em universidades: hoje, temos 820 mil universitários a mais do que em 2003. Objetivamente, ainda temos um processo ruim, muito abaixo do que precisamos, mas te- mos também a universalização do ensino médio e a entrada de novos alunos no ensino superior do Bra- sil. Isso faz com que tenhamos um maior número de pessoas em con- dições de consumo, o que é bom do ponto de vista do mercado interno e ajuda a tornar o Brasil menos vulnerável às questões interna- cionais. Essa pujança do mercado interno se dá muito por indução do Estado, o mesmo Estado que tem todos os problemas tributários identificados aqui. Ele estimula o processo de distribuição de renda no Brasil. Vêm daí os 30 milhões de brasileiros que melhoraram de vida. Um detalhe interessante é que, além desses brasileiros que melhoraram de vida, outros 15 mi- lhões de trabalhadores passaram a ter carteira assinada. Sou otimista porque o Brasil melhorou muito. Se não avançamos nas questões tributárias e de educação para
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