Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 89 } Num mundo onde se tem os Estados Unidos inventando, a China produzindo, a Índia programando e a Europa consumindo, onde fica o Brasil? Essa é a grande questão. ~ } Em 20 anos talvez tenhamos corrigido nossos problemas, enquanto a China deverá ter um elevado nível de problemas de difícil solução. ~ o mercado de trabalho, também é verdade que o Brasil de hoje é muito diferente do que o de 10, 15 ou 16 anos atrás, quando teve início o Plano Real. SÉRGIO – Todos os textos dizem que o Brasil é um fornecedor de matéria-prima. Ele está fadado a ter esse papel ou poderíamos pensar num país industrializado que também vai começar a com- prar produtos daqui, mesmo não tendo problemas tão graves de balança comercial? ROBERTO – Sem dúvida nenhu- ma. Entre os países emergentes, o Brasil é um dos que oferecem maior e melhor diversidade indus- trial. Às vezes, nos nossos encon- tros, na FIESP, com estrangeiros, costumo dizer que produzimos de minério de ferro a avião, ou seja, temos todo o espectro industrial em um país que tem uma base industrial construída desde 1930 e que foi feita para substituir as im- portações. Por meio de incentivos e mecanismos de estímulo, vimos as indústrias brasileiras sendo criadas com uma política explícita de substituição de importações que ocorriam em período anterior. Agora, o que nos preocupa é a de- sindustrialização a que corremos o risco no Brasil, com a substituição da produção local (daquilo que temos tecnologia), e potencial de produzir, pelas importações. RENATO – Porque ficamos mais vulneráveis ao processo inflacionário. ROBERTO – Inf lacionário nem tanto, porque a importação pode estar sendo feita até em bases de subfaturamento ou dumping , que até no ponto de vista inflacioná- rio traz para o governo um certo conforto, não deixa as importações baratas chegarem porque cria um viés anti-inflacionário, mas não contribui para o desenvolvimento do país e nem do emprego. É uma concorrência desleal, que gera essa desindustrialização do Brasil. Nós nos indignamos contra ela primei- ro porque não está sendo combati- da ao nível da Organização Mun- dial do Comércio, pelos organis- mos multilaterais, da forma como deveria. A China tem sido isenta e intocada pelas organi zações multilaterais, apesar de fazer um estrago no mercado internacional com sua manipulação cambial e seus incentivos ilegais. A China faz isso porque precisa, desespe- radamente, criar empregos, são 10 milhões de empregos por ano. Uma coisa é conquistar empregos: você é competente, tem qualidade e oferece a melhor tecnologia, vai ao mercado e conquista os empre- gos pelos seus produtos que são mais competitivos. Outra coisa é você sequestrar os empregos, tirar os empregos dos outros países de
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