Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 90 } Na verdade, a força do BRIC está mais na capacidade de gerar negócios com economias complementares do que no Brasil, na Rússia, Índia e na China de forma individual. ~ uma forma desleal, concorrendo com produto subfaturado, sem respeitar propriedade intelectual ou normas de comércio inter- nacional. Diante dessa situação, você se sente realmente injustiça- do. E a desindustrialização é um fato que ocorre hoje não de uma maneira geral na indústria, mas setorialmente. Em alguns casos temos uma sit uação aguda de desindustrialização; industriais que pararam de produzir no Brasil porque estavam tendo prejuízo e transferiram a produção para a China, tornando-se no Brasil importadores e distribuidores. São centenas, milhares de casos. SÉRGIO – Esse é um processo irreversível? ROBERTO – Não é irreversível, mas há um perigo que é a ruptura da cadeia produtiva. Recentemen- te, numa reunião que tivemos da diretoria plena da FIESP, ouvimos do pessoal da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) como está o setor eletroeletrônico. A ruptura da cadeia produtiva, do elo entre os fornecedores e os subfornecedores do setor, fez crescer assustadora- mente o conteúdo de importados em cada etapa do processo produ- tivo. Como não existe concorrência do produto final acabado até as etapas intermediárias, o compo- nente importado acabou saltando de 10% para 40% do produto, substituindo, assim, fornecedores nacionais. Às vezes o próprio for- necedor nacional passa a comprar, por exemplo, a peça de fundição da China – coisa óbvia que deveria ser feita no Brasil, o país do minério de ferro, do car vão vegetal, da energia... GRACIOSO – Em meados de fe- vereiro almocei com um grande produtor de pescado que estava voltando da China para negociar o fornecimento de pescado em lata para cá. ROBERTO – Esse é um caso até inusitado, porque em a l imen- to nem sempre o chinês é tão competitivo. Quero concluir com um número que é extremamente preocupante: nosso déficit de pro- dutos manufaturados na balança comercial é de US$ 70 bilhões. Tirando as commodities agrícolas, minerais e petróleo da balança, temos um déficit de US$ 70 bi- lhões de manufaturados num país com a base industrial do Brasil. Tem algo profundamente errado na nossa política econômica e industrial, que está fazendo com que o Brasil se desindustrialize e isso é algo que temos de reverter em curto prazo. SÉRGIO – E qual seria o passo para essa reversão? ROBERTO – Um prog rama de competitividade amplo que passe não só pela questão cambial, mas também pela questão tributária, além de promover a formalização de emprego, a inovação, a tecno- logia, a educação, a logística… Há muitas reformas estruturais a serem feitas no Brasil para se reverter esse quadro. Tenho plena consciência e convicção de que podemos fazer, mas precisamos de liderança, de um governo firme e consciente, que seja capaz de to- mar decisões corajosas e ousadas. Muitas vezes, é o burocrata do governo que tem medo de tomar a decisão. Ele prefere ficar omisso do que correr o risco de errar. IVES – Estou convencido de que muitas vezes o governo fica refém da burocracia. No caso do sistema tributário, por exemplo. Há três anos, o Banco Mundial fez um levantamento apontando que os empresários brasileiros gastam em média 2,6 mil horas no atendi- mento das obrigações tributárias, enquanto os alemães gastam 100 horas. Nos Estados Unidos são 300 horas e a média mundial fica entre 300 e 400 horas. Esse índice de- monstra o que as exigências buro- cráticas representam em cada país e algo pior: a insegurança jurídica.

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