Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 96 nãodá, porque isso é uma bandeira da previdência e tem um ataque muito grande à terceirização. SÉRGIO –Na realidade, temos proble- mas e precisamos fazer nossa lição de casa. Mas nós realmente somos uma potência, ou vamos perder esse lugar caso não seja feita essa lição de casa? LUIZ AUGUSTO – O que é ser uma potência? Se compararmos que co- meçamos falando em ser BRIC ou RIC, por exemplo, em termos de política estratégica do ser ou não um ator que influencia a política global, evidentemente que o Brasil está mais atrás porque é o único que não é potência nuclear, como os outros três países. A própria Rússia, que é um pouco da União Soviética amputada depois da Guerra Fria, tem uma série de circunstâncias que a habilitam a ter um papel importante na política mundial − está ao lado da Europa. A China, com sua sanção, também se põe nessa situação, sendo uma po- tência nuclear, que hoje dialoga com os Estados Unidos. Já o Brasil é omais diversificado e equilibrado dos quatro países. É, sem dúvida, a democracia mais vibrante e o país mais homogê- neo. Apesar de todas as disparidades, temos uma humildade sociocultural invejável. Na China, por exemplo, falam 200 línguas, na Índia também, sendo que o que a salva curiosamente é o ideograma, porque a língua escrita é a mesma, então as pessoas não se entendem na fala, mas sim na escrita. Nesse sentido, vivemos numuniverso sem grandes problemas ou anta- gonismos. A simetria econômica em favor do Brasil hoje é inconteste. Na década de 70, quando começamos os primeiros movimentos de processos de integração que levaramaoMerco- sul, o Brasil era um terço do PIB da América do Sul. Hoje, responde por 56% do PIB da região. A simetria se corrige com integração econômica, que se faz em torno do Brasil. Por outro lado, China, Índia e Rússia já estiveram em guerra e têm conflitos não resolvidos até hoje. Portanto, o que temos de resolver são nossos problemas internos, as questões tributária e trabalhista, com vistas a incorporar cada vez mais gente na sociedade brasileira, nesse processo evolutivo. Vejo com otimismo o fato de hoje a sociedade brasileira se manifestar de forma mais eloquen- te, cobrando, até, a “accountability” (imputabilidade) de seus governantes e agentes do Estado. O Brasil sofreu com a tradição ibérica de Estado forte, sociedade fraca. Hoje estamos vendo umamobilização social levar a novos níveis de cobrança do Estado, que deve servir à sociedade e não o contrário. Mas esse título de “Brasil potência” é a consequência de tudo isso e não a causa. Um slogan mui- tas vezes leva àquilo que um colega meu, Miguel Osório de Almeida, já falecido, dizia: “Nós, no Itamaraty, ficamos tão fascinados coma fita, que esquecemos qual é a jogada”. IVES – O Brasil está condenado a ser potência, não há outra solução. Faz-} Queremos ser uma grande potência ou vamos perder a chance mais uma vez? Porque, historicamente, já tivemos momentos em que um salto qualitativo poderia ter ocorrido. ~
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