Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 97 me lembrar uma observação de um prelado do Vaticano, em que com os ataques à igreja perguntaram se eles não tinham medo da igreja desapa- recer e a resposta foi: “Claro que não, se nem nós conseguimos destruir, acha que os outros é que vão?” E, realmente, nós, brasileiros, não con- seguimos…Mesmo com todas essas deficiências, o Brasil continua cres- cendo, ou seja, estamos condenados a ser potência. Outro dado que me tranquiliza: há 800 anos um meteo- rito caiu na lua. Sabemos a data exata em que ele caiu porque os monges que estavam no jardim do mosteiro numa noite de lua, viram um bri- lho intenso e anotaram no diário. Quando Neil Armstrong chegou lá, a lua ainda estava tremendo, porque era um fenômeno recentíssimo um meteorito ter caído há 800 anos. Se analisarmos, emrelação à vida de um ser humano, evidentemente o tempo é de ano para ano. Mas se pensarmos que vamos solucionar esses proble- mas daqui a 20, 30, 40 ou até 50 anos, veremos que, numa perspectivamais histórica, o Brasil está condenado a ser potência, mesmo que não queira. MARCONINI – Concordo plenamen- te. Tendo a pensar que em 20 anos talvez tenhamos corrigido nossos problemas, enquanto a China deverá ter umelevado nível de problemas de difícil solução. Nesse sentido também consigo ser otimista. O mundo, de certa forma, tem os Estados Unidos comopotência.Discordoquehajauma grande decadência americana num país que é dez vezes maior militar e estrategicamente do que o segundo colocado e que tem presença nos mares, céus e em toda parte. Eles vão continuar inventandoas coisas porque lá o nível de criatividade, a capacidade de regeneração e de ter ideias continu- arão sendo o grande fator no mundo daqui para frente. Num mundo onde se temos Estados Unidos inventando, a China produzindo, a Índia progra- mando e a Europa consumindo, onde fica o Brasil? Essa é a grande questão. De certa forma, estamos bemposicio- nados porque alimentamos e, cada vez mais, vamos dar energia para o mun- do. Nesse sentido temos uma posição forte de qualquer forma, mas nosso problema é que também queremos inventar, produzir, programar e somos capazes! Apesar de tudo chegamos aonde chegamos. Imagine então do que seríamos capazes de fazer se não houvesse esse piano na nossa cabe- ça? Essa é a grande questão que nos diferencia dos outros, somos capazes, desde que a lição de casa seja feita. WALTER – Quando Jim O´Neill in- ventou essa divisão, não pensou que Brasil e China iriam se debater o tem- po todo, partiu de quatro países e, em 2005, disse numa entrevista que não situouoMéxicoeaCoreiadoSul nesse conjunto porque erammais desenvol- vidos. Uma coisaqueprecisamos fazer é olhar para frente. Daqui a 30 anos, a população economicamente ativa do Brasil será de 150 milhões. GRACIOSO – Quanto é hoje? WALTER – Pouco mais de 101 mi- lhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009. Para dar emprego para todos esses milhões, vamos precisar de uma indústria com musculatura, de um desenvolvimento que torne tudo isso possível. Hoje, vimos que, o diagnósti- co, já temoshámuito tempo. Perdemos a chance de discutir o Brasil na última campanha eleitoral. Nessa discussão é necessário identificar o problema que vamos tentar resolver, temos vários, mas não vamos conseguir atacar a todos. O problema se coloca numa população que cresce e essa é uma característica não do BRIC, mas do conceito que antecedeu à criação dessa sigla, com George Kennan falando dos “países monstros”, que eramesses quatro mais os Estados Unidos. O que mais atinge essa população é a impos- sibilidade de participar e é a educação quemvai capacitá-la. Esseéumgrande problema. Precisamos unir esforços, caso contrário vamos ficar divididos numa série de pedacinhos, sem en- frentar ao menos um dos problemas. } Uma das questões do BRIC é a qualificação da mão de obra e as condições de trabalho. Notamos que se o Brasil colocar toda sua produtivi- dade em dia, não haverá profissionais para isso. É o chamado ‘apagão’ da qualificação profissional. ~
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