Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 98 ROBERTO – Para não repetir os mesmos argumentos que já foram ditos, e eu endosso quase que na integralidade, vou abordar o tópico sobre o que seria desejável para a sociedade brasileira como futuro, como nação. Vejo o lado da busca da felicidade, o lado humano dessa discussão. Os outros três países do BRIC têm problemas de secessão internos graves e estão envolvidos em conflitos ou rusgas externas: a Índia com o Paquistão, a China com a Índia e a Rússia com suas repúblicas, como a Ucrânia que tem uma disputa grande com eles. Diante desse cenário, tanto do lado interno como do externo, o Brasil pode ser um país, uma sociedade muito feliz. Até por temperamento do povo brasileiro, por uma postura talvez informal – informalidade é uma característica interessante da nossa sociedade. Aqui foi dado o exemplo da Coreia e que, de fato, é um país notável do ponto de vista da produção, mas a felicidade do povo coreano deve ser muito baixa, porque eles não têm uma expectativa de entretenimento, de usufruto da vida no sentido hu- mano. O Brasil pode procurar um modelo de sociedade diferente que o torne admirável diante do mundo – diria até que já é, mas pode ser mais ainda. Outro dia fizeram uma pesquisa sobre qual a população mais simpática e o Brasil ganhou. Levamos um pouco dessa alegria, desse tropicalismo brasileiro para o mundo. Outro ponto interessante para a reflexão é saber como vai ser feito o processo de redemocratiza- ção do norte da África. Tivemos uns v isitantes estrangeiros na FIESP e esse assunto foi posto em pauta. De repente, um cidadão do governo americano faz a seguinte afirmação: “O país com experiência democrática mais confiável e mais capacitado para ensinar democracia no norte da África é o Brasil, porque se os americanos tentassem fazer, certamente, não conseguiriam ser admitidos ou inspirar confiança para os povos do norte da África e do Oriente Médio”. O Brasil, no entanto, pela sua personalidade mais neutra e isenta, tem essa virtude de uma relação muito equi- librada, muito horizontal com seus parceiros. Então, volto a dizer que na dimensão humana o Brasil será uma potência. IVES – Pontualmente, muito rápi- do, eu tinha um amigo já falecido que foi reitor da Universidade de Rosário, na Argentina, Governador de Santa Fé, o professor Manuel de Juano. Esse grande tributarista argentino me dizia: “O que me im- pressiona quando venho ao Brasil é que ouço samba, ouço as músicas, é tudo aberto. Eu gosto muito do tango, mas é só tragédia”... LUÍS AFONSO – Realmente somos abençoados por natureza, por re- ligião, por demografia, por vários pontos. Além disso, já avançamos muito em relação a nós mesmos perante o nosso passado. Milhões de pessoas entram no mercado de trabalho todos os anos, e isso é uma situação que agora temos mais bem resolvida do que antes. Isso está acontecendo talvez porque o nosso nível anterior era baixo e continua sendo, são muitos anos que temos de melhorar, porque os outros lá fora têm uma situação mais desfavorável do que tinham antes. Então, nossa posição relativa é beneficiada. Agrada-me a ideia de estar otimista, mas o próximo do otimista é o acomodado. Gostaria de me sentir incomodado com algumas questões que precisamos melhorar para atingir um voo um pouco mais longo, um voo de con- dor, por exemplo, e não mais um voo de galinha. ROBERTO – Como diz a piada, um otimista, como o brasileiro, inventou o avião, já o pessimista inventou o paraquedas! RENATO – Discutimos vários as- pectos interessantes, mas há dois pontos que gostaria de expor. Um, é a separação que o Walter falou so- bre o que é custo que volta e o que é custo de imposto. Isso é importan- te, principalmente, quando se fala das classes C e D. No ano passado, somente o décimo-terceiro do pú- blico C e D colocou na economia brasileira o equivalente a cinco anos de Bolsa Família. Foram R$ 65 bilhões do décimo-terceiro, em ummês. Estou falando em famílias com renda de um a três salários mí- nimos, que estão no emprego for- mal. Então, o problema não está em ter carteira assinada ou não, e sim na quantidade de tributos e impos- tos que colocam sobre ela. A outra questão é sobre um dado popular, que aponta que o Brasil começa a ser a sede dos núcleos de empresas multinacionais como Unilever, Procter & Gamble e Kimberly- Clark para os mercados emergen- tes. Num primeiro momento, os estrategistas que cuidavam desses mercados emergentes f icavam em Miami e no México. Depois, a sede foi para a Índia. Hoje, se vê que todas essas grandes empresas multinacionais enxergam a capaci- dade dos executivos brasileiros em

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx