Revista da ESPM
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 13 Loyola — A análise de cenários é importante e não faz muita dife- rença a empresa ter registrado um desempenho melhor ou pior durante a pandemia. Emambos os casos, será preciso montar cenários e analisar situações econômicas especificas. Isso porque a pandemia atingiu gran- de parte das atividades de maneira heterogênea. Emesmo agora, quando a recuperação começa a acontecer, o que mais temos visto é a falta de insumos em praticamente todos os setores. Isso porque houve uma para- da súbita e as cadeias produtivas se desorganizaram. Na hora de religar a economia, o processo foi assíncrono: o comércio reabriu, mas a indústria não tinha itens para entregar, porque o fornecedor também estava sem a matéria-prima. Esse movimento tem prejudicado a recuperação de muitos setores produtivos, que têm perspectiva de vender muito, mas não conseguem produzir. E isso está acontecendo no mundo todo, com exceção da China, que se beneficiou muito desse momento. Os chineses conseguiram manter a capacidade industrial e, mesmo tendo sofrido com a pandemia, retomaram rapi- damente as suas atividades, o que resultou em um aumento de suas exportações de manufatura. Revista da ESPM — Com base no cenário atual, é possível traçar um panorama de como será o amanhã da economia no Brasil e no mundo? Loyola — Acredito que algum acordo mínimo será realizado entre o gover- no e oCongresso e que o teto de gastos será respeitado no ano que vem. Ou seja, não teremos um desastre, mas também não conseguiremos resolver totalmente o problema. Acontece que 2022 será um ano difícil do ponto de vista do relacionamento entre Con- gresso e Executivo, porque as cabeças dos nossos políticos estarão voltadas para a eleição e será um momento muito difícil para acelerar qualquer tipo de reforma. Logo, 2021 represen- ta uma janela de oportunidade para fazer a lição de casa que era para ter sido feita em 2020 — o ano que não aconteceu. Uma das vicissitudes da recuperação da economia é qual será o impacto das retiradas dos estímulos que o governo trouxe este ano. O país não tem dinheiro para sustentar um programa desse porte. Se a economia tiver condições de sobreviver, o pro- cesso pode se dar de maneira mais suave. Um país com as desigualdades que o Brasil temprecisa de programas sociais, como o Bolsa Família. Mas esses programas devem ser dosados, focados nas pessoas que realmente precisam e desenhados de acordo com a capacidade financeira do Esta- do brasileiro, que não pode se endivi- dar e criar problemas fiscais. Revista da ESPM — E qual é a sua aposta? Loyola — Trabalho com duas hipóte- ses: acabar com o auxílio emergencial e de alguma forma expandir o progra- ma Bolsa Família para um número maior de pessoas sem aumentar o va- lor do benefício; outra hipótese seria a extensão desse auxílio no primeiro trimestre de 2021 apenas para aguar- dar a vacinação. Mas aquela ideia de montar um megaprograma de renda não vai vingar, porque não tem como sustentar um programa assim, a me- nos que você aumente os impostos shutterstock . com Épossível conciliardesenvolvimentoeconômicocommeioambiente. Umexemplo dissoéoqueacontececomoagronegócioesuasavançadas técnicasdeprodução
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1