Revista da ESPM

ENTREVISTA | MARA GABRILLI REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2020 54 Revista da ESPM — Em 2016, duran- te uma aula magna que ministrou na ESPM, você relatou que a Escola teve um papel fundamental em toda a sua traje- tória. Que importância essa graduação teve no caminho que escolheu trilhar? Mara Gabrilli — Eu passei anos da minha vida certa de que faria medi- cina. Entrei no Colégio Bandeiran- tes com este objetivo e no terceiro colegial eu acordava todo dia às 3 horas da manhã para estudar. Até que no fim do ano comecei a ter umas crises e achar que não era nessa profissão que iria conseguir colocar tudo de mim. Eu senti que precisava fazer algo que me per- mitisse criar. Por sugestão do meu irmão Beto, que fez engenharia e belas artes, comecei a ter contato com a profissão de publicitário até encontrar a ESPM. A publicidade teve uma influência grande na mi- nha trajetória. Revista da ESPM — Quando você in- gressou pela primeira vez na ESPM, ela ainda funcionava na rua Rui Barbosa. Como era estudar naquela ESPM? Mara — Cursei dois anos da ESPM lá noBixigae foramdois anosmaravilho- sos! Eu lembro que toda sexta-feira, as aulas começavam ao som de Faustão apresentando o Perdidos na noite , porque o teatro Zaccaro era grudado no prédio da faculdade e parecia que ele estava se apresentando dentro da sala de aula. Era um barato, por- que todo aquele entorno do Bixiga parecia compor com os talentos e ar- tistas que frequentavam a faculdade na época. Lembro também que tinha muito morador de rua na região e muitos ficavam encostados no muro da faculdade. Nos intervalos, muitos alunos tinham o hábito de trocar ideias com essas pessoas, o que representava uma experiência forte de contato com a realidade. Tinha de tudo ali, na rua, até um cara que havia cursado jornalismo. Então, costumávamos comentar que essas pessoas eram gente como a gente. O próprio bairro incitava pensa- mentos e reflexões nos estudantes. Em 1988, tranquei a matrícula e fui morar na Itália, onde permaneci por mais dois anos trabalhando como cuidadora de um idoso. Esse traba- lho me encantou, pois tive a opor- tunidade de ver um senhor de 90 anos se transformar. No início, ele não falava comigo. Até que decidi ler as notícias do jornal para ele. E ele então começou a corrigir minha pro- núncia e foi a partir daí que consegui quebrar a barreira da comunicação com aquele homem. Embora eu tenha alma publicitária, fiquei com vontade de cursar psicologia para entender o comportamento huma- no. Em 1990, voltei ao Brasil e passei a cursar duas faculdades ao mesmo tempo: psicologia e publicidade na ESPM, que já estava sediada na Vila Mariana. Revista da ESPM — Como foi seu re- torno para a vida acadêmica? Mara — Foi um choque de reali- dade retorna r e ver uma ESPM ultramoderna e toda repaginada. Foi também curioso, porque uma das matérias que eu precisaria cursar era justamente psicologia do consumidor. Encarei isso tudo como se estivesse fazendo uma pós-graduação. Na época, o sonho de consumo da maioria dos alu- nos era entrar em uma agência de publicidade. Mas eu nunca me vi trabalhando em uma agência. Tanto que conheci um grupo que trabalhava no Vale do Anhanga- baú junto com a Associação Viva o Centro em um amplo projeto de cultura, comunicação e preserva- ção do meio ambiente. Eu sempre fui apaixonada pelo centro antigo da cidade de São Pau lo. Então, logo passei a fazer eventos com o pessoal do SP Centro. Eu montava o projeto e corria atrás de patrocí- nio. Ainda lembro do primeiro pro- jeto que consegui executar em par- ceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) e o extinto Jornal da Tarde . Conse- gui fazer uma exposição de fotos na Galeria da Consolação. Queria criar e gostava de escrever e de fotografar. Trancada no laborató- rio fotográfico, eu lembro que não queria fazer outra coisa na vida a não ser ficar assistindo à imagem ser revelada no papel. Até hoje trago nos meus olhos a sensação de fotografar e compor a imagem. Umadas coisas que sempre pautarammeu trabalho foi ouvir as pessoas. Eé issoque norteia aminha vidapública e amatéria-primapara construir políticas públicas de qualidade

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1