Revista da ESPM
ENTREVISTA | MARA GABRILLI REVISTA DA ESPM | OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2020 56 bri isso logo que comecei meu traba- lho na vida pública e percebi que de nada adianta fazer algo importante se você não comunicar direito. Sim- plesmente porque sem comunica- ção toda ação perde a eficiência. Depois que virei vereadora, vi que muito daquilo que havia feito como secretária municipal, como os ôni- bus acessíveis na periferia, não es- tava sendo usado, porque as pessoas não sabiam que esse serviço público estava disponível nas comunidades. É o marketing que concentra toda a inteligência competitiva e estraté- gica do negócio, seja ele qual for. E a partir dele analisar e entender os anseios do público. Revista da ESPM — Você exerceu dois mandatos de vereadora em São Paulo, antes de se eleger por duas vezes para a Câmara Federal e, em 2019, passar a representar o estado no Senado. O que aprendeu nesta trajetória política? Mara — Aprendi a fazer política com o coração. Ajudar as pessoas é o que me move. Isso foi o que me levou a entrar na política: ver a vida das pes- soas se transformando para melhor! Quando quebrei o pescoço, ganhei esse desafio. É um grande desafio pensar no outro, ir toda semana para Brasília, ficar até tarde debatendo projetos, atendendo pessoas, pre- feitos e demandas que não são nada leves. A maioria das pessoas não imagina o que é, por exemplo, ser mãe de autista em um país como o Brasil. Eu lido com tudo aquilo que as pessoas não têm. Mas o fato é que, depois do acidente, eu passei dois meses entubada na UTI e respirando por aparelhos. No dia em que conse- gui superar essa fase e estabelecer uma nova rotina, vi que estava numa situação difícil, mas que ainda assim conseguia lidar bem com isso e ser feliz. Minha gratidão por ter melho- rado e conseguido respirar por conta própria, mesmo com a paralisia, foi tanta que resolvi fazer algo para aju- dar as pessoas, a cidade, o país. Eu estava com disponibilidade interna para fazer isso. Nunca almejei ser deputada federal ou senadora. Nunca tive a ambição por esses cargos. Mas, no posto de vereadora, logo desco- bri que sem esses cargos eu pouco poderia fazer para aprovar uma lei municipal semo projeto estar previs- to na legislação federal, por exemplo. Às vezes, quando tinha de tratar alguma questão urgente relacionada a doenças raras com o Ministério da Saúde, só conseguia ser ouvida se ar- rumasse um senador para “chamar de meu”. Bastava envolver o nome do senador na conversa que a Anvisa aparecia. E foi a partir daí que decidi legislar pelo Brasil. Revista da ESPM — E quais os cami- nhos para se construir um país melhor e mais igualitário? Mara — Uma das coisas que sempre pautaram meu trabalho foi ouvir as pessoas. E é isso que norteia a minha vida pública. É essa a matéria-prima básica que tenho para construir polí- ticas públicas de qualidade e mediar conflitos. É impressionante como a sociedade civil, o poder Executivo, o poder Legislativo e o poder Judiciário se bicam e como sai faísca! Acontece que, quando não existe harmonia nessas relações, as coisas caminham com muita lentidão. O inverso ocorre quando todos se juntam para cons- truir um projeto. Tudo flui de forma rápida e eficiente. É por isso que resol- vi assumir a posição de tentar mediar conflitos entre a sociedade civil e o governo. E nesse processo aprendi que muitas vezes temos de ceder para poder avançar! Agora, por exemplo, estou olhando para um senador que fez um projeto proibindo o uso de THC e outro proibindo as pesquisas com células-tronco embrionárias. Eu participei de todo o processo de aprovação da lei de biossegurança no Brasil e posso assegurar que esta é uma discussão ultrapassada. Este senador parece ser um bom homem e até ter bondade no coração, mas está considerando apenas as crenças nas quais ele acredita, sem levar em conta o progresso da ciência. A cura para o linfoma só chegou porque alguém pesquisou sobre isso. Infe- lizmente, por conta de atitudes como esta, o Brasil fica sempre a reboque de outros países que investem em pesquisa e tecnologia, encontram a fórmula e depois a vendem para nós a um custo altíssimo. Revista da ESPM — Um dos pontos que você defende no Senado é a propos- 2020 foi um ano em que o medo da morte bateu em nossas portas. Tivemos de driblar o vírus, a fome, o desemprego e ainda flertar com a desesperança
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