Revista da ESPM
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRODE 2020| REVISTADAESPM 59 Assimcaminhaahumanidade! A pandemia apenas evidenciou problemas que os cientistas sociais já vinham estudando e alertando a sociedade, como as questões da saúde e da doença, dos abismos sociais e da violência. E tocar nestes pontos é pensar e repensar o consumo! Por TiagoPereiraAndrade D esde odesenvolvimentodafilosofia antiga, passandoprincipalmentepelo iluminismo, a humanidade percebeu a complexidade em que as sociedades e culturas estavam se projetando. Mais tarde, com a proliferação dos livros por meio da prensa de Gutemberg, dos folhetins e da expansão das comunicações de massa com advento do rádio, do cinema e da televisão, houve a difusão artística de uma enorme gama imaginária sobre como seriamas socieda- des vindouras, caracterizadas por avanços tecnológicos como comunicadores portáteis, inteligências artificiais, biotecnologia. Logo, essas ideias deixaramde ser sonho de ficção científica para compor uma nova realidade! Por outro lado, o comportamento humano se modifi- cou, mas emumcerto descompasso quando comparado aosavançosdasciênciasnaturais.Umexemploclaro: ado- ramos nosmanter conectados comtodas as pessoas que conhecemos, podendonos comunicar de formaexpressa emassiva,masnãoestávamospreparadosparaas conse- quênciaspsicológicasecomportamentaisdesteprocesso. Vício,linchamentodigital,hiperexposiçãoemanipulação de dados são alguns desses efeitos colaterais. Enquanto isso, as terras “tupiniquins” possuemcarac- terísticas peculiares. OBrasil, comoquase qualquer país explorado, demonstraalgunsdadosbastanteexpressivos. Mesmo oscilando entre as dezmaiores economiasmun- diais,tambémocupaposiçãosemelhanteentreosmaiores índices de desigualdade. No Índice deDesenvolvimento Humano (IDH), estamos na posição 78. Sem contar as dimensões territoriais do país; a diversidade cultural; o fatode ser umdos últimospaíses a abolir a escravidão; de ser o país quemais assassina transexuais — entre outros recordes quenãoprecisamser reforçados, pois sãopauta de inúmerasmatérias jornalísticas no cotidiano. Neste cenário, as ciências sociais se desenvolveram para entender, descrever e eventualmente propor solu- ções para os problemas da sociedade. O mundo con- temporâneo, alémde ser umprato cheio para estes pes- quisadores, precisa, e muito, deles. Ainda mais em um país de tantos contrastes e diante do panorama de um mundo interligado. Pensando nos tópicosmais estudados pelas ciências sociais, no Brasil e, consequentemente, na ESPM, pode- mos resumir comumexemplo de um recorte temporal, uma retrospectiva iniciando coma pandemia da Covid- 19, o confinamento nacional e suas consequências: questões psíquicas e emocionais dos confinados (medo, ansiedade, depressão); a economia e as diferentes rea- ções de grupos sociais durante a pandemia; o aumento das violências; e, enfim, o consumo. Pormeio da antropologia da saúde e da doença, obser- vamos omedo, a depressão, a ansiedade, amudança de rotina e o sedentarismo que foram exemplos de males muito discutidos na pandemia, mas não começaram nela. Antes mesmo do atual confinamento, omundo já registravaumamédiade800mil suicídios anualmente, e emcrescimento! Psicólogos, psicanalistas e psiquiatras também relatamaumento embuscas por suas clínicas. Quase toda doença da psiquê possui umtripé de susten- tação — biológico (a fisiologia cerebral), psicológico (as estruturas psíquicas) e sociológico (a forma como se vive e se relaciona) — e que tratamos como biopsicossocial. Hoje, entendemos que estes três pilares devemser tra- balhados de forma concomitante, e não de formas con- correntes ou individuais, para se conseguir êxito ao tra- tar estas doenças. Aoatentarmos à forma comovivemos, desdeo iníciodaeramoderna, notamosque trabalhamos cada vezmais,moldando todos osnossos valores àhiper- produtividade. Nos esforçamos muito ao longo da vida
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