Revista da ESPM

ENTREVISTA | PAULO SARDINHA REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO/ABRIL DE 2021 12 profissional vai, naturalmente, procu- rarmobilidade ao longo da carreira? Revista da ESPM — Enquanto o Fórum Econômico Mundial 2020 esti- mava a criação de 6,1 milhões de novas oportunidades de emprego até 2022, a edição de 2021 apresentou um relatório que estima uma redução significativa de postos de trabalho e declarada urgência na requalificação de metade dos profis- sionais em atividade. Como você anali- sa este cenário no contexto brasileiro? Sardinha — Vivemos algo interes- sante no Brasil: a taxa de desempre- go estabilizou no patamar de 14%, mas a movimentação dos dados de entrada e saída do Cajed revela o impacto da tecnologia na sociedade. A mesma tecnologia que cria mais de cem mil postos de trabalho por mês, demite outras tantas que ope- ram sistemas agora obsoletos. Um exemplo disso é o Blue-ray, que aca- bou com o DVD, mas não resistiu ao streaming e à possibilidade de arma- zenamento de som e imagem sem depender de uma mídia física que o novo sistema oferece. Nesse aspec- to, vale ressaltar que a tecnologia não deve ser protagonista, mas sim auxiliar no processo de desenvolvi- mento das pessoas. A pandemia nos empurrou para o home office, que, na verdade, é um conceito da época medieval. O sapateiro e o relojoeiro da Idade Média trabalhavam em casa! Depois, passaram a vender seus produtos em praças públicas e dava certo porque não tinha lei para atrapalhar o comércio. A ironia da vida é que estamos revisitando um modelo de trabalho medieval! O que difere o home office de hoje daquele praticado na época medieval é a regulamentação. O próximo passo é buscar um ponto de equilíbrio, porque as pessoas estão ficando deprimidas com a falta das relações sociais e da interatividade. Afinal, o bar da esquina e o restaurante onde íamos almoçar com a equipe eram parte da rotina do trabalho. Nós fomos para um espaço virtual por conta de uma ruptura e não de um planejamento. E um ano depois, nos descobrimos mais tecnológicos do que poderíamos imaginar e tam- bémmais presenciais do que pensá- vamos ser! Esse modelo tem limites porque leva à exaustão, desconexão e perda de valores fundamentais de atuação em grupo. Temos recebido muitas queixas de subordinados e líderes com dificuldade de adapta- ção. E isso revela um problema sério de comunicação, com as lideran- ças apresentando dificuldade para demandar as tarefas de maneira correta. Temos relatos que apontam que as pessoas se comportam de maneira mais ríspida e intolerante quando as reuniões não são grava- das. Na internet, todo mundo fica bravo de repente! Revista da ESPM — Considerando o mercado de trabalho em 2021, quais são as competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) mais valorizadas pelas empresas na hora de contratar novos talentos? Sardinha — Hoje, um dos grandes critérios avaliados na hora da contra- tação é a maturidade do profissional para responder de maneira voluntária e isolada às demandas que irão surgir. Entre os critérios de avaliação estão também a administração de priorida- des e o foco. Neste cenário, a comuni- cação ganha importância, porque a pessoa precisa sermais objetiva e con- seguir traduzir suas ideias demaneira eficaz e direta. A chave para o futuro é saber se comunicar de maneira seleti- va e consistente para ter seu conteúdo visualizado nomundo virtual. Revista da ESPM — Mas o perfil desse novo profissional está em linha com os anseios e atitudes das novas gerações? Sardinha — Entre 2012 e 2014, houve pico de entrada da geração Millennium nomercado e tambémumgrande des- compasso de expectativas: os jovens afirmavam não se enxergar no cargo de diretor da empresa; e as empresas buscavam fórmulas para reter esses talentos. Mas, em vez de tentar reter, a empresa precisa aprender a lidar com esses jovens para ser capaz de construir um ambiente que desperte neles um sentimento de pertencimen- to e, consequentemente, a vontade de permanecer na empresa. E foi esse descompasso que acabou incenti- vando o crescimento das startups no Brasil, com jovens inquietos que não se percebiam fazendo longa carreira Temos dois caminhos a trilhar rumo ao futuro: podemos optar pela reconstruçãode pontes combase nodiálogo e nanegociação, ou partimos para a judicialização

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