Revista da ESPM
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO/ABRIL DE 2021 | REVISTADAESPM 81 E mumamanhã de fevereirode 2021, empleno século21,eu,umaleitoradejornalimpressona cidade de São Paulo (grupo de pessoas quase emextinção!), leiono cadernode atualidades umamenção a Klara e o Sol (Editora Gradiva), obramais recente de Kazuo Ishiguro, ganhador de umdos últimos títulos do Nobel de Literatura, em uma reflexão sobre os limites do ser humano: robôs são capazes de sentir? Aprovocaçãoserviuparaquede imediatoeuencomen- dasse o meu livro físico, ainda em status de early bird , já que as vendas abririampara o público apenas na semana seguinte: “Trabalhemosasensaçãodeescasseznogrande público, funciona” ressoavanomeuouvido a vozmarque- teira a que estamos todos tão habituados a ouvir. Tudo se deuapenascomdoiscliquesnomeusmartphoneAndroid, utilizando umportal de e-commerce recheado de inteli- gência artificial e algoritmos que já me conhecem, que possui mais dados sobre as minhas preferências do que provavelmente eu mesma, que sabe onde eu moro e mapeia as minhas finanças como intuito de cada vez mais oferecer-me tentações diárias que vãodesde xampu para cabelos finos a voluntariado para cuidar dos Big Five na África. Três dias depois, experimentei a eficiência da área de supply chain do tecnológico setor de varejo, que garantiu que a minha expectativa sobre a leitura não diminuísse, e entregou-me na porta de casa, dessa vez ainda com um entregador “tipo gente”, meu bem embalado pacote que continha um punhado de pági- nas bem escritas sobre Amizades Artificiais. Parece tudo muito tecnológico, não fosse o ainda rudimentar final do processo de compra que me obrigou a utilizar a caneta esferográfica azul, sem tampa, do entrega- dor, que prontamente cobrou-me a assinatura em um papel surrado, para tambémnele deixar registradomeu documento de identificação, sem considerar os urgen- tes protocolos sanitários do nosso atual momento de pandemia. Recebi a encomenda e não pude deixar de avaliar a minha tal Customer Experience e acabei refle- tindo sobre o fato de estarmos experimentando um belo momento de transição! Estamos todos atravessando asmais diversas frontei- ras da inovação, da transformaçãodigital, das novas pro- fissões, das novas economias, dosmodelos de negócios, das cadeias de suprimentos, das indústrias e, sobretudo, das nossas próprias fronteiras! E ao fazermos a traves- sia, onde cabemos? Pertencemos ao antes ou ao depois? Pertencemos ao lugar de onde partimos ou ao lugar para onde estamos nos dirigindo? Será que não cabemos em lugar algum? Dilemas sobre como experimentarmos as excelên- cias do processo de compra omnichannel em dois cli- ques e ainda perecermos com a caneta esferográfica e o papel surrado comum rabisco anônimo qualquer nos fazem refletir sobre os nossos talentos, habilidades e obsolescências. Sim, todos temos nossos talentos inatos, independen- temente do momento e do ambiente lá fora. A pergunta, então, paira sobre termos a capacidade de identificá-los desdeoprincípioda jornadadasnossas crianças e jovens, emmodelosdeeducaçãoquenamaioriadasvezes inibem acriatividade, premiama repetiçãoeaindaproduzemalu- nos a partir domodelo da SegundaRevolução Industrial. Enquanto isso, nossas empresas e nossomercado de tra- balho estão sedentos por jovens que estejamhabilitados para a Indústria 4.0, a fim de que incorporemmetodolo- gias ágeis ao seumodelo de gestão e que tenhamo domí- niode ferramentas quenamaioriadas vezesnão são con- templadas emsua formação acadêmica. Sim, denovo. Podemos treinar e aprimorar pessoas em suas habilidades, construindo ambientes empresariais que possuamforte cultura de aprendizagem, que permi- tama experimentação, que sejamplurais e incorporem o “diferente” aos seus conselhos e grupos de lideranças e promovama ampliação da consciência de suas pessoas, para que finalmente possam ter liberdade e segurança para modelar hoje o futuro que tanto almejam e dificil- mente sabemcomo construir. Futuro esse que somente existirá a partir das nossas decisões e ações de agora, que nãomais comportamvisões pelo retrovisor e suge- remque nos arrisquemos. Zonas de conforto podempor vezes servir como área de descanso, mas, emdemasia, podem trazer inércia e atrofia. Estamosatravessandoas fronteiras da inovação, dasnovas economias, dosmodelosdenegóciose, sobretudo, dasnossaspróprias fronteiras!
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