EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 11 lia reunida na sala assistindo à TV já é considerado um luxo! Revista da ESPM — Parafraseando o título de um de seus livros, diante desse avanço do mundo digital, qual é o valor do amanhã? Eduardo — Os problemas essenciais dos seres humanos não mudam. As dúvidas continuam rigorosamente as mesmas: como viver?; quanto sacrificar do presente para beneficiar o futuro?; quanto sacrificar do futuro para beneficiar o presente?; que valores regem minha existência?; sou uma pessoa para quem sucesso financeiro domina todas as outras relações ou estou disposto a sacrificar um pouco o lado materialista da vida para ter relações pessoais mais generosas?; quero me aprofundar na ética, na estética, nas artes ou nos esportes? Estas são escolhas fundamentais que irão determinar a vida da pessoa, o tipo de projeto que presidirá o tempo que nos é permitido respirar e sonhar. Tão impactante quanto o desenvolvimento tecnológico foi a enorme ampliação da expectativa de vida que experimentamos nos últimos tempos. Viver mais dificulta e altera muito nossas escolhas ao longo da vida. E ajuda a explicar por que o ato de fumar — algo que era tão glamoroso na geração dos meus pais — ganhou uma nova conotação na sociedade. Se você morre cedo por outras causas, o custo do tabagismo não se materializa, porque o dano que você está produzindo no organismo é abstrato. Agora, ao viver 90 anos ou mais, o dano do tabagismo passa a ser dramático e tira muito de sua qualidade de vida. O aumento na expectativa de vida também afetou o casamento monogâmico indissolúvel. Morrer aos 60 anos significa passar em média 30 anos com a mesma pessoa. Viver até os 90 anos significa ter de passar 60 anos ou mais com a mesma pessoa. Então, é bom pensar bem na hora de casar! Quando eu era criança, ter pais separados era exceção. Hoje, a exceção é a criança cujos pais continuam casados! Mas o aumento da expectativa de vida é apenas um dos fatores dessa mudança. É importante ressaltar que a sociedade conquistou graus de liberdade e expressão, principalmente as mulheres que deixaram de ser submissas e se libertaram da opressão e da obrigação de manter o vínculo matrimonial. Revista da ESPM — Você acredita que melhoramos enquanto sociedade? Eduardo — Eu não generalizaria, dizendo que avançamos em todas as frentes. Avançamos nas relações de gênero e raciais, por exemplo. Mas em outras áreas, como meio ambiente, temos problemas graves e sem solução à vista. Temos visto países batendo recorde de consumo de carvão nas termelétricas, enquanto assistimos a eventos climáticos extremos e acordos sendo assinados e simplesmente ignorados. O acordo de Kyoto e o acordo de Paris representam uma pantomima sinistra. É um retrocesso. Já na política, o mundo ainda está tentando entender essa polarização e ascensão de grupos de direita populista que não A solidão humana crescerá na proporção exata do avanço dosmeios de comunicação. A sociabilidade humana está se empobrecendo SHUTTERSTOCK.COM
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