RESPM 123 2022

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 13 escolar. Qual seria a política educacional mais adequada para a realidade que o Brasil enfrenta hoje? Eduardo — Em cur t íssimo prazo precisamos fazer uma avaliação corajosa do déficit de aprendizado produzido pela pandemia. Não podemos fingir que isso não aconteceu e temos de nos empenhar em corrigir essa perda. Preocupa muito a evasão escolar no ensino médio. É preciso atrair esse jovem para a escola e também aproximar o ensino médio da vida desse jovem, por meio de um ensino profissionalizante, mais conectado com as aspirações e necessidades dos brasileiros. A boa notícia é a de que teremos um novo cenário no médio prazo, com a queda significativa da taxa de fecundidade no país. Hoje, já estamos assistindo à redução no número de novos ingressantes no sistema educacional. Isso irá nos permitir melhorar a qualidade de ensino, uma vez que a concentração do invest imento em um número menor de alunos nos dá a oportunidade de caprichar no conteúdo e de ter uma educação mais voltada às competências humanas. O que não pode continuar é a fantasia de achar que toda criança que conclui o ensino fundamental adquire o grau, as habi lidades e as competências requeridas. Omesmo acontece com o ensino médio e o ensino superior do Brasil, que inflacionou a concessão de graus e certificados acadêmicos. Eu gostaria que fosse resgatado o lastro de uma credencial acadêmica como ensino fundamental completo e a garantia de que de fato a pessoa não é um analfabeto funcional. Hoje, uns f ingem que ensinam, outros fingem que aprendem e tudo termina emdiploma! Revista da ESPM — Como o mundo corporativo reage a esse fato? Eduardo — As empresas estão fazendo um esforço cada vez maior para compensar o déficit do nosso sistema educacional, tendo de suprir seus colaboradores de formação com a qual já deveriam contar. Mas é preciso lembrar que o Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental no fim do século 20. Já os Estados Unidos — ex-colônia como nós — fizeram isso um século antes. E a universalização brasileira émais nominal do que real. Aqui dentro podemos nos enganar o quanto quisermos, mas na hora em que sai para fazer o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o problema aparece, com o Brasi l nas últ imas colocações do mundo em termos de aprendizado em leitura, matemática e ciência. Ainda assim, muitos jovens acreditam que o mais importante é ter o diploma. Estão totalmente enganados. O diploma que não tem lastro é apenas um papel pintado, e quando chegar ao mercado de trabalho, esse jovem vai sofrer Revista da ESPM — Qual é ou deveria ser o papel das universidades brasileiras na vida da sociedade? Eduardo — Eu fui professor em Cambridge, na Inglaterra, na USP e no Insper e posso afirmar que a diferença fundamental que observei nessas exEmcurtíssimoprazoprecisamos fazer umaavaliaçãocorajosadodéficit de aprendizadoproduzidopelapandemia.Nãopodemos fingir que issonãoaconteceu e temosdenosempenhar emcorrigir essaperda SHUTTERSTOCK.COM

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