ENTREVISTA | EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 14 periências é a de que o universitário brasileiro em São Paulo acredita que fazer faculdade é assistir às aulas e passar nas provas. Já o universitário inglês em Cambridge sabe que, além de assistir às aulas e passar nas provas, ele está tendo a oportunidade de se educar para a vida e, por isso, é estudante em tempo integral. Durante os quatro anos de faculdade, ele se dedica a conhecer e a explorar — mesmo não estando em sala de aula, ele está no campus vivendo uma experiência educacional integral. Aqui, o aluno brasileiro já entra na faculdade querendo fazer estágio. Na ânsia de ingressar nomercado de trabalho, ele acaba jogando fora a oportunidade de ter uma formação educacional completa, uma aprendizagem que não se repetirá na vida dele. Revista da ESPM — Hoje, os ciclos de carreira estão mais curtos, porque os próprios conceitos de emprego e de sucessomudaram. Até que ponto essa dança das cadeiras, principalmente entre o público jovem, contribui para o desenvolvimento da economia do bem-estar? Eduardo — A pessoa é instada a se repensar e a pensar em atividades nas quais veja sentido em fazer. Mas nada em excesso. É preciso ter foco para não ficar pulando de um lado para outro. De qualquer forma, aquele modelo antigo de entrar numa empresa aos 19 anos e se aposentar com 65 anos acabou! E as empresas estão penando para atender às demandas das novas gerações. Revista da ESPM — Estabilidade versus propósito de vida. O que esse choque de interesses causa na sociedade? Eduardo — Eu espero que o propósito de vida tenha cada vez mais peso na vida dos profissionais do que tinha no passado, quando a estabilidade era muito valorizada e alimentada pelo sonho de ser funcionário público. O fato é que pessoas mais qualificadas se tornam mais exigentes, principalmente no quesito qualidade de vida. O grande economista Gary Becker, da Universidade de Chicago, dizia que, a partir de um certo nível de renda, o controle do tempo vale mais que acréscimos na renda, ou seja, ser dono do seu tempo temmais valor do que ganhar mais — o que já é uma realidade para muitos jovens no Brasil, especialmente para aqueles que têm mais sucesso nas atividades que exercem. São jovens profissionais que querem exercer aquilo que fazem bem, nas condições que eles estabelecem. Revista da ESPM — Em 2002, você escreveu Felicidade: diálogos sobre Aquelemodelo antigo de entrar numa empresa aos 19 anos e se aposentar com 65 anos acabou! E as empresas estão penando para atender às demandas das novas gerações. OgrandeeconomistaGaryBecker, daUniversidadedeChicago, diziaque, apartir de umcertonível de renda, ocontroledo tempovalemaisqueacréscimosna renda, ou seja, ser donodoseu tempo temmaisvalor doqueganharmais SHUTTERSTOCK.COM
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