Revista da ESPM - STE-OUT_2011
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 106 Os principais desafios e multicrises que de- finem este novo milênio (violência, globali- zação da inflação, escassez da água, exclusão social, volatilidade da moeda, alta no preço dos alimentos, aquecimento global e tantas outras), requerem soluções que transcendam disciplinas individuais em suas categorias (por exemplo, engenharia, geografia, psi- cologia, matemática, economia). Os novos programas nas escolas devem se esforçar para descobrir o que há de comum entre essas dis- ciplinas e criar ambientes favoráveis para que os alunos identifiquem caminhos comuns. A escola que vem de dentro Afogados que estamos pelas af luências, sobras, excessos e obsolescências materiais e simbólicas, estamos sedentos de silêncio, vazio e interioridade. Sobre a interioridade, nenhuma escola trata. Como se estivésse- mos vivendo apenas um lado da realidade e jogando fora todo o potencial criativo. Afinal de contas, somos completos. A única espécie com capacidade de enfrentar o mundo exterior e o mundo interior ao mesmo tempo. Estamos tentando cuidar do mundo exterior, do botox ao aquecimento global. Mas o que estamos fazendo com relação ao mundo in- terior? Esse mundo no qual se ancora a nossa existência, ao qual recorremos para tomar decisões e imaginar que o que queremos não está na constelação didática das escolas. Esse deslocamento do subjetivo e do interior nos tem afastado da fonte inesgotável de riqueza que vem de dentro e na qual encon- tramos um infinito número de possibilidades, como se ainda não tivéssemos aberto a Caixa de Pandora de nosso destino. O caminho está na incorporação do imagi- nário e do intangível em cada disciplina que compõe as grades curriculares e deixar fluir o que falta: a imaginação, o sonho, o tácito, o intocável, o não visto. Na obra recém-lançada Educação para a era da sustentabilidade , Arnoldo de Hoyos, professor de Estudos do Futuro da PUC-SP nos inspira com visões sobre educa- ção e sustentabilidade e nos coloca em contato com pensadores como Alceu de Amoroso Lima, que escreveu em 1954 Meditação sobre o mundo interior , do qual foi pinçada essa linda reflexão: “O homem completo, isto é, o homem normal é aquele que vive interiormente sua vida exterior e não sepulta em si, egoistica- mente, sua vida interior”. Viver a vida em sua intensidade e plenitude requer ir além da materialidade e alcançar valores intangíveis tão sagrados na agenda dos processos criativos. Por isso, temos que, antes de tudo, instalar uma escola permanente dentro de nós, tonificar nossos sentidos, fláci- dos pelos modelos, construir nossos castelos e alicerçá-los de valores universais, estruturando a base dos ensinamentos que irão nos fortale- cer e capacitar para viver a vida, não como ela é, mas como desejamos que seja. ES PM
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