Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 115 a atenção sobre o poder que a tecnologia tem de favorecer oaparecimentode transtornos ligados à dependência. Circuitos cerebrais frontoestriatais, ativadosemcomportamentosdedependência, são ativados quando adolescentes jogam videoga- mes (Koepp et al. 1998), o que pode explicar o desenvolvimento de comportamentos aditivos. Embora esses estudos demonstrem o poder devastador que a tecnologia pode ter sobre crianças e adolescentes, vemos uma relação que é muito mais pautada no conteúdo do que da mídia em si. De fato outros trabalhos já mostraram melhoras no processamento visuoespacial e cognitivo de adolescentes que utilizavam videogames de ação, por exemplo. (Green; Bavelier, 2008). E se a neurociência é utilizada para tentarmos entender o poder das mídias e da tecnologia que utilizamos hoje, o que dizer das novas for- mas de interação cérebro-máquina que serão possíveis no futuro? Diversas empresas estão criando as novas for- mas de entretenimento que utilizarão o poder da leitura da informação cerebral para gerar jogos, brinquedos e conteúdos controlados diretamente pelo cérebro. Essa indústria neurotecnológica, hoje, se baseia primariamente na decodificação da atividade elétrica do cérebro, que pode ser captada e transformada em informação para o controle de diversas atividades. O uso dessa tecnologia para a educação pode ser visto no desenvolvimento de aplicativos neuroeducacionais desenvolvidos por empresas como a Neurosky Inc. e Advanced Brain Monitoring Inc, por exemplo. Essas tecnologias têmcomo base a captura do si- nal eletroencefalográficoque, após ser processado e traduzido, pode auxiliar crianças e adolescentes a realizarem tarefas, geralmente jogos que, em última instância, podem ter objetivos educacio- nais. Os dados cerebrais sãoutilizados tantopara o controle do jogo quanto para a monitoração do desempenho. Esse novo nível de informação disponível pode ser utilizado pelos professores como uma ferramenta extremamente poderosa para o desenvolvimento pedagógico do aluno, permitindo umcontrole personalizado das com- petências e dificuldades do estudante. Oquedizer entãodaspossibilidadesde implantes cerebrais, os chamados neurochips, que poderão interagir diretamente com a estrutura neuronal para facilitar o processamento cognitivo? Os implantes cerebrais hoje são utilizados para tra- tamentodedoenças neurológicas epsiquiátricas, porém evidências já começam a mostrar que essa influência direta no cérebro pode ajudar a melhorar as capacidades humanas. Cientistas da University of Southern California conseguiram mostrar, por exemplo, comoumimplantedeuma prótese neuronal podemelhorar a capacidade de memória em ratos (Berger et al . 2011). Seja pelo uso intenso da comunicação, por meio de interfaces digitais, seja por influência direta no cérebro, a tecnologia está nos levando a um patamar nunca antes visto. O extremo controle sobre as bases da natureza humana poderão modificar demaneira contundente a forma como enxergamos a sociedade e as relações humanas. Isso obviamente afetará a forma como entende- mos o papel da educação. O aprendizado poderá ser feito utilizando-se todo o conhecimento gerado por meio dessas novas interfaces tecno- lógicas. Iniciativas como a School of One (www. As novas tecnologias de comuni- caçãooferecemumainfraestrutura que nos permite a interação em rede de seus integrantes. Todo esseprocessoacabouporcriarum novo paradigma, onde a informa- çãoéamatéria-prima.Atecnologia passa, assim, a permear toda a atividade humana, aplicando sua lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações. Oleg Zhevelev

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