Revista da ESPM - STE-OUT_2011
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 14 depois faz a pessoa esquecer o que aprendeu. Já com a vivência isso não acontece. Junto com o aprendizado do videogame, eles têm a vivência da unidade mente e corpo, que é rápida e vital. Eles têm a vivência e o que proponho nesse livro é a vivência do conhecimento. J.ROBERTO – Ainda em seu livro, você fala sobre a importância das lendas e dos con- tos de fadas. É um setor que conheço um pouco e onde tenho uma dúvida. A emoção causada é praticamente real, mas o que está por trás do game ou dessa emoção? Costumo dizer que o Harry Potter não é herdeiro das lendas e dos contos de fadas tradicionais. Ele é uma coprodução, um efeito colateral dos desenhos animados japoneses, onde há muita ação e nenhum conteúdo. Já não é o caso do papel que desempenham, até milenarmente, as len- das e os contos de fadas. Os educadores bem intencionados não poderiam levar conteúdos morais, éticos, construtivos a essas experiências? CARLOS – Com certeza. O videogame chegou a um ponto em que é irresistível ultrapassar de um joguinho abstrato para um ensino hu- manista de maior profundidade. Por exemplo: no Monteiro Lobato computadorizado, dentro da alucinação, você brincará com o Pedrinho e a Emília, conviverá com eles. No ensino computadorizado, esta vivência é impressio- nante, mas ainda está no nível da brincadeira, da diversão. Já na medicina, ela está num grau avançadíssimo. Utilizando o método, é possível fazer uma cirurgia de coração no Brasil e um médico chinês em um hospital de Pequim sentir as válvulas do coração do nosso paciente e dizer: “Este eu operaria”. Mais do que uma simples reunião intelectual, temos uma conferência médica sensorial. E é isso que o aluno vai vivenciar. Ele não terá uma aula de Monteiro Lobato, mas uma aula sobre o que é o Monteiro Lobato vivencial. Isso é um passo muito além da psiquiatria e da divisão entre o virtual e o real, porque agora temos os dois jun- tos, sensorialmente. Você vai aprender sobre a história dos índios americanos e da ocupação do Oeste Americano fazendo uma caçada de búfalos com o índio americano cavalgando do seu lado. Isso não é apenas imaginação, é uma alucinação em que a diferença é a vivência. GRACIOSO – Lembro de uma entrevista dada pelo reitor da Harvard Business School, no início deste ano, sobre as mudanças que estão introduzindo nos cursos de administração. Uma delas foi acabar com os cases maçudos, com 20 gráficos, 30 quadros e milhares de dados. Tudo aquilo foi para o lixo. Mas ele não foi muito claro sobre que casos vão usar. Disse apenas que continuarão a usar casos, porém de outros tipos. Imagino que poderia muito bem ser cases que apelem à alucinação. CARLOS – Vivenciais. Você estará dentro da vivência de uma empresa, com o seu problema contábil, como problema diante dos acionistas e, de repente, iráquestionar, face to face , ali a tempoe a hora. Não é um case que o aluno vai mentalizar, é uma vivência de uma reunião de business . J.ROBERTO – Como ficam os arquétipos do mestre e do aprendiz nesse processo de ensino? CARLOS – Aí, volto à velha guarda da relação mestre versus aprendiz, que é uma relação exis- tencial de iniciação, e vou até a relação do guru com seu iniciado na Índia. Esse guru atua como um tutor emocional, existencial e de sabedoria. Por exemplo: o mestre está caminhando com o discípulo – ambos com abstinência sexual. Chegam num riacho, onde uma moça linda estava levantando a saia para não se molhar. O mestre pega a moça nos braços, atravessa o riacho, a deposita do outro lado e segue em frente. O discípulo fica indignado e pergunta: “Como o senhor teve esse comportamento?” E o mestre responde: “Eu fiz aquilo para não ficar com ela na cabeça como você ficou até agora”. É um ensino existencial, vivo e um colóquio de Coaching , do técnico na sala de E N T R E V I S T A
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