Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 15 S o f i a E s t e v e s } O videogame chegou a um ponto em que é ir- resistível ultrapassar de um joguinho abstrato para um ensino humanista de maior profundidade. ~ aula. Tenho tido muita resistência por dizer que o professor não deve dar prova para os seus próprios alunos, isso é uma traição. Ele deve ser testado por outros professores, que vão dar a prova, como o Coaching do futebol. Hoje, o Mano Menezes, perdendo de três a dois outra vez, precisa se explicar e não basta dizer que os meninos jogaram bem ou mal. O professor precisa ter essa vivência, mas para isso não pode ser o dono da prova. Ele deve ser aprovado ou reprovado junto com seus alunos, o que irá aumentar sua união com a classe. Provavelmente, ele dirá: “Olhem o que vão fazer na prova de quinta-feira. Não me deixem mal”. É um estímulo da transferência pedagógica que reúne o professor com o aluno e os incentiva a estudar. Eles dirão: “Essa não é por mim. Estudei para o senhor”. E o professor responderá: “Muito obrigado, agradeço à mi- nha turma que compareceu, estudou e deu esse resultado”. É diferente do que ele entrar na sala dizendo que o aluno teve uma péssima nota e está muito aquém do que se espera. Então, passa a ser o ensino emocional. J.ROBERTO – Você dedica o seu livro aos alu- nos, pelo que eles te ensinaram. Como é essa relação em que o professor aprende com os alunos? CARLOS – O arquétipo não é do aluno e do professor, mas sim do mestre e do aprendiz. E aí entra esse arquétipo da alteridade e dialética, que gera interação entre alunos e professores. Reporto isso ao biólogo Ludwig von Berta- lanffy, que descreveu essa relação de feedback múltiplo na matéria viva, onde não existe um polo agente e um polo reagente. No corpo humano, os hormônios da hipófise estão com a suprarrenal em permanente relação dialéti- ca, a hipófise não causa dados hormonais e a suprarrenal não é só receptiva, ela também é agente. É isto que existe em sala de aula, por- que se um professor está deprimido, o aluno sente isso no aprendizado e pensa: “Nossa, vou estudar essa matéria? Ela é tão deprimente e desanimadora...” Mas não é a matéria, é o professor que está deprimido e transmite isso ao aluno. A maneira de os professores se ves- tirem, se embelezarem é uma sedução e deve entrar na sala de aula. Essa sedução precisa ser existencial e acontecer pelo sorriso, animação e criatividade da pessoa. Ao longo da vida, vi muitos alunos que seguiram carreiras em função de gostarem dos professores. GRACIOSO – Na relação mestre versus discípulos dos budistas, o mestre não se preocupa em cobrar do aluno a resposta. O mestre orienta e discute, mas nunca propõe uma solução. O discípulo deve, por si só, chegar a uma conclusão. Nesse momento, ele diz ao mestre: “Tenho a res- posta”. Via de regra, o mestre responde: “Guarde-a”. Você aprova isso? CARLOS – Totalmente. Esse é o Mestre Zen, o ensino Zen. Até cito como exemplo o mestre que está transmitindo isso ao aluno: “Eu não posso te ensinar a verdade, isso deve vir de dentro de você”. E o aluno diz: “Não, mestre. Vim aqui aprender, quero que me dê essa luz.” E o mestre: “Não posso. Isso precisa vir de dentro de você”. Aí, eles seguem juntos em pe- regrinação e passam a noite num monastério. De madrugada, o mestre vai ao banheiro e o discípulo, que estava sem dormir com aquela ideia na cabeça, vai junto. Os dois põem-se a Carlos Byington

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