Revista da ESPM - STE-OUT_2011
s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 17 S o f i a E s t e v e s ES PM GRACIOSO – Certa vez, uma firma japonesa, preocupada com a inovação, promoveu um grande seminário, reuniu os execu- tivos, fechou a turma num local por três dias e procurou estimular o pensamento criativo de mil maneiras, mas nada saiu. No último dia chamou um Monge Zen Budista, porque a maioria dos japoneses que são budistas são Zen. Nesse dia, a sessão foi numa sala de conferências, na penumbra. Sobre uma mesa central havia vários aquários com peixinhos vermelhos nadando e cadeiras à vontade. O Monge pediu para cada um escolher um aquário, sentar diante dele e imaginar que aque- les peixinhos representavam a empresa navegando entre os concorrentes, as difi- culdades da vida, procurando caminhos. A partir daí, eles deveriam procurar o melhor mundo possível. Essa foi a sessão mais produtiva do seminário. CARLOS –OgrandeMestre ZenDaisetz Suzuki foi muito ligado a Jung e costumava dizer: “Vocês, ocidentais, se preocupam muito em ensinar coisas, mas se esquecemdo centro, que só pode ser vivenciado pela meditação, vocês não meditam...” Jung, com a imaginação ativa e a introversão, é muito ligado ao budismo. E o grande problema de Piaget e do Ocidente é a introversão, que é também o grande problema da universidade e do ensino. Você só crê os fatos. É um escândalo que os nossos universi- tários não saibam meditar. GRACIOSO – Não sabem mesmo. CARLOS – Ensino isso no meu consultório. Meus clientes aprendem a vivenciar os so- nhos e as emoções para saírem da ansiedade fazendo meditação de desapego da situação, vivenciando o centro com ummantra – OM – que é a respiração do universo. O universo é um centro e você chama um Deus, uma igreja para rezar para ele. Esse centro está dentro de você, e pela meditação é possível se desapegar de tudo e entrar em contato com o universo. Os alunos ficam olhando, nem sabem o que é isso. No entanto, praticamos a meditação através da respiração, que é algo simples, feito há quatro mil anos, e a pessoa fica en- riquecida de uma maneira tal. Não é preciso entrar para a escola. Você pode meditar uma hora no trânsito, basta prestar atenção na sua respiração. Isso é o Prana Yama, é Yoga da Respiração: põe a sua respiração em sintonia, fica nesse ritmo com a respiração e sai da raiva que lhe fechou, do que está buzinando, dessa loucura da cidade. Experimente vivenciar no trânsito, dentro do seu automóvel, o centro, o desapego, a vivência, a mensagem do Orien- te, não é difícil. GRACIOSO – E nunca foi tão atual. J.ROBERTO – Não nos víamos hámais de dez anos quando nos encontramos na Suíça. Para minha surpresa, você mencionou algo que eu tinha dito muitos anos antes, quase que literalmente: “José Roberto, nunca esqueci a história daquele profes- sor que na sua formatura de colegial disse ‘sede autênticos, sede vós mesmos’ em seu discurso.” Eu tinha esquecido disso, mas você não. Isso tem alguma coisa a ver com toda nossa conversa? CARLOS – Tudo a ver. Em Hamlet, quando Polonius vai aconselhar Laertes, seu filho que vai viajar, ele começa dizendo para ele nunca emprestar dinheiro porque, frequentemente, o empréstimo perde a si próprio e ao amigo. Ele termina o conselho dizendo: “Acima de tudo seja fiel a ti mesmo porque assim, tão certo como a noite segueodia, jamais serás falso comalguém.” É isto que é o Jung, a individuação, a meditação. J.ROBERTO – Conhece-te a ti mesmo. CARLOS – Isso que é o Oráculo de Delphos. GRACIOSO – Muito obrigado, Carlos. CARLOS – Eu agradeço o convite, a amizade, a afabilidade e o acolhimento. Isso é muito importante para mim. Carlos Byington
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