Revista da ESPM - STE-OUT_2011
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 28 1. A preocupação com “esses jovens de hoje” é milenar, é permanente O tema “ cada geração é menos pensante que a anterior ” é antigo; escritos pré-cristianismo já continham essa queixa. Nicholas Carr 3 , cuja visão sobre o assunto será apresentada à frente, refere-se em seus textos ao livro de Marshall McLuhan, “ Understan- ding media: the extension of man ” 4 , publicado em 1964. Nele, McLuhan afirma que os meios ( the media ), tanto fornecem conteúdo para as pessoas pensarem como interferem no desen- volvimento do processo do pensamento. Ex- põe, ainda, sua percepção de que ocorreu uma perda de inteligência no ser humano quando o alfabeto como o conhecemos foi criado, em razão da limitação da comunicação imposta pelo meio impresso. Este, aos poucos, teria acabado com formas diferenciadas e criativas de compartilhamento de conhecimento, como a transmissão de tradições e valores culturais por meio de histórias contadas oralmente de geração a geração, de pinturas e até de escritas primitivas – que usavam símbolos que neces- sitavam ser interpretados. Por não terem de se esforçar para entender, memorizar e decifrar histórias e símbolos, os mais jovens seriam menos hábeis intelectual- mente do que as gerações anteriores. 2. A internet é a responsável pela “perda de inteligência” da juventude atual? Em 2008, no artigo “ Is Google making us stu- pid ” 5 , Carr começa a discutir como a onipre- sença e a inevitabilidade da internet estavam transformando as pessoas, seu jeito de pensar e de se relacionar. Em 2010, ele aprofundou o tema no livro “ The Shallows: what the internet is doing to our brains ”. 6 Reportando-se a McLuhan, porém olhando a questão por outro ângulo, Carr aponta o começo da escrita como um marco para a eficácia na produção e a disseminação do conhecimento, mas chega à conclusão de que o livro impresso morrerá devido à internet; segundo ele, em breve ninguém terá tempo, paciência e até capacidade para se concentrar, para se dedicar a ler e entender textos longos. Carr segue criticando a falta de capacidade analítica e a perda de habilidades cerebrais (como a tomada de decisão), dos jovens, que seriam causadas pela “falta de uso” indu- zida pela internet e seu excesso de apelos simultâneos e superficiais – e apoia essas afirmações em pesquisas científicas men- cionadas no livro. Contudo, Carr acaba assumindo que hoje sabe-se que o cérebro humano não está plenamente desenvolvido antes dos 25 a 27 anos – o que nos dá um “gancho” para começar a navegar na contramão do pes- simismo quanto ao futuro do ser humano enquanto ser pensante. 7 Nicholas Carr temsido umcrítico ferrenho da utopia tecnológica e, em particular, das reivin- dicações populistas feitas para a produção social on-line. Ele critica a qualidade dos pro- jetos de voluntariado da web 2.0, bem como as informações daWikipedia e da blogosfera, onde defende que eles podem ter um efeito líquido negativo sobre a sociedade.
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