Revista da ESPM - STE-OUT_2011

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 44 E N T R E V I S T A MANOLITA − De ummodo geral, pode-se di- zer que a escola do futuro já está surgindo. Ela será o resultado do embate de ideias entre os defensores do ensino tradicional que enfatiza a transmissão de conhe- cimentos, avaliação e competição, e as novas vertentes humanistas de vanguarda que enfatizam o ser humano e procuram, acima de tudo, o seu crescimento pessoal e profissional. Sabemos que há prós e contras nos dois lados e gostaríamos que o Sr. iniciasse a entrevista expressando o seu pensamento sobre esse assunto. PEDRO − Escola do futuro, para mim, é aquela que garante a todos o direito de aprender bem, utilizando-se igualmente de novas tecnolo- gias. Estas são, para a aprendizagem, sempre um meio, apenas, mas elas não são apenas meio. São também literacia e vão fazer parte da escrita como exigência generalizada para fazer parte deste tipo de sociedade. O computador não vai substituir, neste caso pelo menos, o ser humano, como se pudesse aprender em seu lu- gar e melhor. Será instrumentação, mas indis- pensável, como a escrita nos é indispensável. Avaliação continuará fazendo parte da escola do futuro, como diagnóstico e cuidado com os alunos, não como mera classificação e pressão externa. O estudante irá para a escola para produzir conhecimento próprio, sob orientação e avaliação docente, exercitando sua autoria. Não se restringe a mero crescimento pessoal e profissional, mas à construção de um tipo alternativo de sociedade marcado pela autoria e autonomia das pessoas. Embora a vinculação com mercado deva ser reconhecida, não é a principal. A principal é o desafio de “ formação ” (“ bildung ”). O desafio maior, no entanto, está nos professores que, em geral, se apresentam com formação insuficiente e desvalorização socioeconômica flagrante. Entre nós, a própria imagem do professor indica que educação não tem importância. MANOLITA − Falaremos agora especifica- mente do ensino superior. Em sociedades intensivas em conhecimento, a Educação ganha especial destaque. Nesse con- texto, acadêmicos, dirigentes políticos e empresariais, das mais diversas cores e filiações, debruçaram-se na discussão de temas voltados para a Educação em geral e para o fortalecimento da profissio- nalização dos professores em particular (TARDIF, Maurice. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos univer- sitários. Revista Brasileira de Educação. n.13, jan/fev/abr, 2000). Curiosamente, no Brasil, a política de formação docente para a educação superior tem se limitado à exigência de títulos. Levando em conta a sua trajetória docente e a reflexão que tem desenvolvido sobre educação, quais bases seriam capazes de sustentar uma política consequente de formação de professor, comprometida com as especificidades da educação superior? PEDRO − Entendo que esta questão supõe outra: o que é “universidade” ou “formação superior”... Num modelo de transmissão de conhecimento alheio, mimético, subserviente, sua função é de “porta-voz” subalterno. Em outro modelo vinculado à pesquisa, facilmente a docência é vista como entrave para os pes- quisadores que preferem cuidar de sua carreira. } Enquanto o trabalhador deve estudar todo dia a vida toda para estar à altura da expectativa do mercado, este não tem qualquer compromisso com ele. ~

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