Revista da ESPM - STE-OUT_2011

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 46 } Em vez de buscarmos produzir { conhecimento pró- prio | , preferimos ecoar o conhecimento dos outros. ~ E N T R E V I S T A MANOLITA − A valorização da aprendi- zagem, em detrimento do ensino, é um discurso recorrente nos espaços que promovem a educação. O senhor poderia propor alguma reflexão sobre a questão? PEDRO − Na prática, pretende-se a subordi- nação do ensino à aprendizagem, não pro- priamente o descarte do termo. Para muitos professores instrucionistas (só dão aula co- piada para aluno copiar), subordinar o termo já é liquidar com ele! Um dos exemplos mais citados é o lema da Singapura: “ Teach less, learn more ” (ensinar menos, aprender mais), pois é o primeiro país que assume ostensivamente a secundarização do ensino. Ocorre algo si- milar com aula – não é o caso de exterminar, mas subordinar claramente à aprendizagem. Aula só faz sentido para fomentar pesquisa e elaboração própria. A pecha agarrada ao ensino é a do instrucionismo: cópia da cópia. Grande parte dos docentes só faz isso: não produz conhecimento próprio e, ainda assim, ou por isso mesmo, só dá aula . MANOLITA − Os exercícios que se prestam a desenhar o futuro da educação apontam para direções convergentes e não raro contraditórias. Poderia comentar os 5 aspectos selecionados? • EDUCAÇÃO PERMANENTE (EDUCAÇÃO CONTINUADA, EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA ETC.) E REDUÇÃODO TEMPO ENVOL- VIDO NO DESENHO DE CURSOS. PEDRO − É perspectiva importante, apesar dos modismos. Vem alcunhada por vezes de portfó­ lio , como aquela pasta que se tem debaixo do braço contendoo currículopessoal, as pretensões profissionais, a comprovação da renovação per- manente profissional, os textos desenvolvidos, a fluência tecnológica etc. Muitos dizem que na escola e na universidade o que de melhor se po- deria aprender é “aprender a aprender”, porque, esvaindo-se os conteúdos naturalmente com o tempo, sua renovação depende sumamente de saber pesquisar e elaborar. Essa ideia aparece na empregabilidade , embora detenha componente muito perverso: enquanto o trabalhador deve estudar todo dia a vida toda para estar à altura da expectativadomercado, estenão temqualquer compromisso com ele... • EDUCAÇÃO ORIENTADA PELO PROJETO DE FORMAÇÃO DO ESTUDANTE QUANDO AS UNIVERSIDADES RECEBEM JOVENS DESTITUÍDOS DE QUALQUER PROJETO. PEDRO − Em parte é reclamação vazia: a uni- versidade está colhendo o que plantou, ao formar professores básicos indizivelmente precários. Por outra, vale pouco reclamar do aluno: a função do professor é precisamente esta: assumir um aluno muito despreparado e fazer dele umautor primoroso, o que supõe que ele mesmo seja autor (condição relativamente rara ainda). Isso vale sobretudo para as Fede- rais e Estaduais de maior nível (paulistas, por exemplo): não cabe ficar cuidando da sempre mesma elite, mas introduzir nela estudantes que vêm debaixo, despreparados, e fazer deles autores capazes de disputar as mesmas opor- tunidades da elite. • ESCOLAS, CURSOS, CURRÍCULOS E DIS- CIPLINAS FLEXÍVEIS PROTAGONIZADOS POR PROFESSORES “ULTRADISCIPLI- NADOS” POR PROJETOS DE PESQUISA, PUBLICAÇÃO, ORIENTAÇÃO DE PES- QUISA, E TRABALHO COM DISCIPLINAS SUBORDINADAS A DETERMINADA LINHA DE PESQUISA.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx