Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 47 S o f i a E s t e v e s } Grande par te dos docentes só faz isso: não pro- duz conhecimento próprio e, ainda assim, ou por isso mesmo, só dá aula. ~ PEDRO − É um ranço clássico a disciplinarização. Estamos muito longe ainda de enfrentar essa questão. Talvezuma ideiapertinentesejadebulhar o currículo em problemas (desde que genuínos e significativos), paraqueos estudantesdeemconta deles sob orientação e avaliação. Todo problema importante é transdisciplinar. Esse reparo não elide a importância do especialista , porque temos, navidaenomercado também, problemas especiais – ainda que seu tratamento suponha um idiota especializado .Nãose trata, então, deextremos,mas de equilíbrio, sobretudo de formar profissionais que continuem aprendendo a vida toda. • EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO EM UM MUNDO COM FLAGRANTE REDUÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO. PEDRO −Ovínculo como trabalho é importante, mas não é a razão maior de ser. Para o sistema capitalista é sempre questão não resolvida: não existe a menor chance de inventar empregos, sobretudo empregos de remuneração elevada, para todos. Estudar é uma recomendação funda- mental, mas contém sempre a subordinação ao mercado. De todos osmodos, uma boa formação crítica e autocrítica poderia contribuir para pres- sionar o mercado e buscar contornos mais satis- fatórios de nossa sociedade. Vejo como problema mais candenteaaceitaçãoquase comumdequeos trabalhadores precisam correr atrás do mercado, nãoo contrário. Uma inversãoenormede valores. • INTENSIFICAÇÃO DA SOLIDARIEDADE ENTRE PAÍSES, UNIVERSIDADES, PRO- GRAMAS, CURSOS, PESQUISADORES, PROFESSORES NO CONTEXTO DE UMA INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FORTEMENTECALCADAEMCOMPETIÇÃO. PEDRO − Nossa sociedade é, sim, competitiva em seu âmago, não só por ser capitalista, mas porque faz parte do molde eurocêntrico. Discursos sobre solidariedade são muito hipócritas, como é o discurso sobre empoderamento doBancoMundial – promete-se emancipaçãodomarginalizado, desde que aceite as regras de jogo da marginalização. As universidades não são diferentes. Por exemplo, o alinhamentotacanhodaproduçãocientíficaaofor- matonorte-americano significa, comobemexplica Amsden(2009– Aascensãodo“resto” ),subserviência tola, como se conhecimento fosse padrão único. Em vez de buscarmos produzir conhecimento próprio , mesmo começandodo começo, preferimos ecoar o conhecimento dos outros. MANOLITA − Não seria exagero afirmar que as empresas, ao recrutarem seus futuros executivos entre os formandos das univer- sidades, dão mais valor a características subjetivas, como valores éticos e morais, comportamento em grupo, capacidade de liderança e comunicação, do que aos conhecimentos inerentes ao curso de graduação do formando. Isso nos leva a uma reflexão mais profunda sobre o ver- dadeiro papel da universidade dos jovens formandos e ao legado familiar e cultural que os alunos já trazem quando iniciam os cursos de graduação. O senhor poderia comentar essa questão? PEDRO −Essa discussão realça as tais habilidades ou competências , embora não concorde que seja o caso deixar de lado conteúdos . Domínio de conteúdos é relevante, mas, como perecem rapidamente, o desafiomaiorésabersemprerenová-los,reinventá- -los, e isto exige habilidade , por exemplo, aprender a aprender, pesquisar e elaborar etc. Creio que a questão poderia ser mais bem posta, se um dia fosse possível garantir aprendizagem adequada aos estudantes, emvez de aula . ES PM Demo Pedro

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