Revista da ESPM - STE-OUT_2011
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 50 seja, não estamos entendendo nada −, cada geração tende a chamar os jovens de perdidos, descompromissados, irresponsáveis; em falta com relação aos nossos paradigmas, enfim. De início, gostaria de me posicionar contra duas atitudes extremas, mas comuns: não penso que estejamos próximos do fim dos tempos e que os jovens estejam perdidos. Ao menos, não muito mais que os jovens de gerações anteriores. No outro extremo, tam- bém não penso que vivamos um mundo de tal forma novo que devamos descartar todo o conhecimento e cultura acumulados até hoje. Ao ser convidado para escrever este artigo pelo Prof. Francisco Gracioso, ele fez uma observação interessante: parece-lhe que os jovens hoje não desenvolvem mais sua me- mória, uma vez que contam com o acesso fácil e portátil à internet, onde podem buscar a qualquer momento qualquer informação. Quais seriam as implicações disso: Transfor- mações inéditas na relação que estabelecemos com as informações? A perda de recursos básicos do pensamento? Contei então a ele uma conversa que tive há algum tempo com nosso querido amigo e colega professor, o poeta Mario Chamie (falecido recentemente). Ele observava então que a invenção da palavra escrita provocou uma transformação muito grande justamente no uso da memória. Toda uma longa tradição de contadores de histó- rias e transmissores de cultura oral se tornou obsoleta ante a invenção do livro. Ao ladear essas duas histórias, talvez pos- samos posicionar as coisas em escala de processo histórico. Não estamos diante do fim dos tempos ou de seu começo. Há outros trabalhos a serem feitos por aquele que se dedique hoje a compreender os jovens. Um deles é tomar cuidado com as generalizações. Num certo sentido, não existe “ O Jovem ”, como categoria unifor- me. Isso provavelmente vale para qualquer época e grupo social. Mas há indicações de que isto seja mais agudo hoje. Temos uma A lenda egípcia do deus Thot, a quem se consagraainvençãodosnúmeros,astrono- mia e da própria escrita, ilustra a importân- cia da tradição oral para os povos antigos. Alendadizque,duranteoreinadodeTamuz, o deus Thot ofereceu-lhe suas invenções, dizendo-lhe para ensiná-las a todos os egípcios.MasTamuzquis saber autilidade de tais artes e, enquanto o deus explicava, ofaraóascensuravaouaselogiava,confor- me lheparecessemboas oumás. Quando Thot lhe apresentou a escrita, disse que aquela arte tornaria seu povo mais sábio e lhe fortaleceria a memória. No entanto, Tamuzrespondeu-lhequeaescritatornaria oshomensesquecidiços,poisdeixariamde cultivar a memória, lembrando-se de um assunto exterior apenas por sinais, e não em si mesmos, transformando os homens emmeros sábios imaginários. } V i vemos uma época na qua l mode l os de ident idade bem def inidos estão fa l idos . Ninguém sabe d i zer com preci são hoj e o que se j a ser homem, mu l her, adu l to, ado l escente etc. ~
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