Revista da ESPM - STE-OUT_2011
s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 53 Uma reflexão psicanalítica sobre o jovem e a função das instituições de ensino Retomo agora aquela observação do Prof. Gra- cioso sobre a disponibilidade de informações pela internet. Daqui em diante, coloco-me da perspectiva de meu próprio campo de pesquisa, numa análise mais qualitativa e da perspectiva das ciências humanas. Há até poucas décadas, a família era a via de chegada de informações sobre o mundo. Uma criança de minha geração (nascida emmeados dos anos 60), entrava na escola aos 5 anos de idade (no Jardim da infância) e assistia a um pouco de TV, nos 4 ou 5 canais disponíveis. Hoje, cada vez mais crianças ingressam numa “escolinha” com 1 ou 2 anos. E, atenção, trata-se de “escolinha”, não creche; ou seja, é presumido que a criança esteja aprendendo algo enquanto brinca e se relaciona. Para além disso, TV a cabo, DVDs ou Blu-rays, consoles de games , celulares e, sobretudo, a internet estão disponíveis desde muito cedo. A in- formação chega por todos os lados, de modo que nem a família nem a escola detêm mais o monopólio da informação. Mais que isso, pais que pretendessem controlar o acesso da criança ao mundo da informação, mantendo-a a distância daqueles recursos, provavelmen- te estariam criando alguém absolutamente despreparado e desadaptado para o convívio com os demais. O acesso à informação se dá por todos os lados desde muito cedo e isto sim produz modos característicos de funcionamento mental e re- lação com o mundo. Isso não deve ser olhado da perspectiva do prejuízo ou da patologia, A Era da Informação (também conhecida como Era Digital), data do início do século XX, coma invenção domicroprocessador, da fibra óptica e do computador pessoal. Contudo, a transição entre aRevolução In- dustrial e a Era da Informação caracteriza-se principalmente pelamudança na forma de trabalho, quehojepoucoassemelha-se à forma mecânica adotada à época ante- rior. NaErada Informaçãoo conhecimento é extremamente valorizado, tornando as relações comerciais e a comunicação extremamente dinâmicas. mas como evidência de que a mente e o com- portamento humanos são também históricos, constituídos e constitutivos na vida social. Nosso colega Luis Fernando Garcia tam- bém tem dito que até pouco tempo atrás, as empresas que contratavam estagiários viam neles pessoas a serem treinadas; hoje, muitas vezes eles buscam jovens que tragam para a empresa esta sintonia fina com o mundo dos jovens e da informação. Eles hoje são fonte, mais do que depositários de informação. Em abril último, lancei um livro chamado Desejo e adição nas relações de consumo (São Paulo: Editora Zagodoni, 2011), derivado de uma pesquisa que fiz para o CAEPM em 2009. Como psicanalista e professor (e com o reconhecimento do viés que essa perspectiva cria), busquei estudar certas modalidades de comportamento que considero característicos do mundo contemporâneo. Ao longo do sécu- lo XX passamos a ter, de fato, um excesso de acesso a informações e estímulos. Isso signi- ficou uma democratização inédita no que diz respeito ao acesso a conhecimento e consumo, incluindo camadas cada vez mais amplas da população mundial. Particularmente, consi-
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