Revista da ESPM - STE-OUT_2011

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 54 dero isso positivo. Por outro lado, criou-se uma saturação pelo excesso de acesso. O montante de informações e demandas a que estamos expostos parece ser impossível de gerenciar. À procura por fazê-lo, perdemo-nos comumente na superficialidade da relação com pessoas e com o conhecimento. Para realizarmos as tantas tarefas que temos sobre nossas mesas de trabalho, não temos de fato a condição necessária de dedicação e aprofundamento. É fácil cairmos num regime de “tirar da frente” as tarefas da forma mais imediata possível. A universidade é parte e fonte considerável deste regime. Num exemplo ao qual recorro sempre, pense- mos numa grade de disciplinas num semestre da Faculdade: os alunos podem ter de 10 a 13 matérias distintas. Cada uma exigente e per- tinente, em geral. Como os estudantes geren- ciam a necessidade de apresentarem trabalhos para cada uma das matérias? Todos sabemos: formam grupos e distribuem funções. Alguns assumem o trabalho de uma disci- plina e outros o trabalho de outra. Ou, pior, cada um faz um pedaço, posteriormente colado aos demais sem que alguém equalize as partes. Alguns descobrem que determinado professor é mais ou menos exigente e ponderam a dedicação à matéria em função disso. Por aí vai. Ao final do semestre, boa parte desses alunos se vê aprovada nas disciplinas, mas provavelmente sequer leu alguns dos trabalhos que levaram seus nomes. É fácil recriminar os jovens e chamá-los de displicentes ou folgados. Mas, de fato, como gerenciar como qualidade o estudo de 13 disciplinas distintas num mesmo semestre? É mais difícil que as instituições de ensino percebam sua parte na produção desse regi- me de funcionamento. Assim como disponi- bilizam sinal de rede nas salas de aula, o que facilita a distração: ante um conteúdo mais denso, menos prazeroso imediatamente, como resistir à tentação de acessar a rede com nossos smartfones ou notebooks ? Os professores percebem em sala de aula que têm na internet tanto um auxiliar quanto um vigia e agente de dispersão. Informações que passamos são confrontadas a todo momento. A situação é ambígua. Se a demanda da atribuição de tantas discipli- nas é justificada pela exigência do mercado e pela necessidade de se dominar aquela varie- dade de referências, é preciso admitir que esse procedimento produz efeitos opostos. Tendo a considerar que esses alunos estão mesmo é se adaptando: se o ambiente solicita 13 tarefas, aprendo a me relacionar com as coisas de uma perspectiva funcional e pragmática. De fato, tiramos as coisas da frente sem termos condições de nos implicarmos como seria necessário. Resultado? Vamos nos tornando craques em gerenciar informações, responder ao mundo defensivamente e de forma pouco criativa. Os conteúdos, o conhecimento, o Há poucas décadas, a família era a via de aces- so à informação. Hoje, ela chega por todos os lados, demodoque nem a família nem a escola detêmmais o monopólio da informação.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx