Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 55 ES PM aprofundamento, tudo aquilo que poderia de fato preparar o estudante para ser um adulto profissional consistente é trocado pelo aprendizado da consulta e cola de conteúdo. Ante esse ambiente saturado de demandas às quais não temos condições de responder, é comum que tenhamos toda a nossa energia e tempo consumidos nisso. Os resultados mais imediatos desse regime de funcionamento parecem negativos. Quando conseguimos parar, vemo-nos mergulhados num senti- mento de vazio e tédio, desacostumados a estarmos a sós conosco, em contato íntimo com pessoas etc. Pergunto muitas vezes a alunos que me procuram no PAPO (Programa de acom- panhamento psicológico e orientação, da ESPM), com o que eles sonham para si num horizonte de 5 a 10 anos. A pergunta costuma ser ouvida com estranheza e ter como resposta algo como: como assim 5 ou 10 anos? Tudo em que eu penso é se e como vou chegar inteiro até a sexta-feira. Como já disse, sei que minha perspectiva tem um viés muito forte da experiência clínica, mas não vejo os jovens de hoje como hedonistas ou folgados: vejo muitos deles entediados e deprimidos, dependentes de aportes exter- nos (drogas legais ou ilegais, em especial o álcool), para sentir prazer ou relaxamento. Mas isso não é um sinal do fim dos tempos ou a aderência a uma visão pessimista. É a contrapartida de um jovem menos preso que nós a restrições identitárias, com mais possibilidades de descobrir e ter aceitas as suas opções de vida. A perspectiva do que lhes falta só pode ser dada na cobrança de que eles funcionassem como aqueles que viveram em gerações anteriores. O que nos PEDRO LUIZ RIBEIRO DE SANTI Psicanalista. Professor de Psicologia do Curso de Comunicação Social da ESPM e da Espe- cialização em Teoria Psicanalítica da COGEAE PUC-SP. Doutor em psicologia clínica e mestre em Filosofia. parece impossível de gerenciar provavelmente será gerenciado por eles, que já nasceram e se constituíram nesse ambiente. Penso que a função das instituições de ensino já não passa hoje pela transmissão de infor- mações. Mas o ambiente de ensino superior tem algo que não se pode obter com facilidade no fluxo contínuo e sem critério de informa- ções. Podemos oferecer os instrumentos de análise e reflexão capazes de transformar a informação em conhecimento, capacidade crítica, reflexiva e criativa. Entre as exigências domercado com relação aos formandos, as cobranças dos instrumentos de avaliação das instituições de ensino, a atitude de consumidores exigentes dos pais dos alu- nos, penso que devamos nos manter centrados no fato de que somos uma instituição de ensino e formação dos adultos do futuro. Perdemos mais tempo gerencian- do o excesso de informação que criamos do que as assimilando. Não temos, de fato, a condição necessária para nos dedicarmos a tais assuntos, o que nos leva a soluções imediatistas e autômatas.

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