Revista da ESPM - STE-OUT_2011
contínuo aprender a ser, que nos deve ser ministrado por intermédio de uma verda- deira educação permanente – um continuum existencial, cuja duração se confunde com a duração da própria vida [...] Por isso, aprender a ser é aprender a viver” (FAURE et al., 1977, p. 342). Contudo, a ideia de educação por toda a vida não é original. Ela já é encontra- da nos registros de um curso ministrado por Émile Durkheim, durante o calendário de 1904-1905, para candidatos de um concurso à vaga de professor titular ( professeur agrégé ). Naquela ocasião, o sociólogo já sustentava que o objetivo da educação reside em “despertar [no estudante] um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida” (apud MORIN, 2001, p. 47). Destacam enfaticamente que os estudantes devem se situar no centro do ato educativo. E, na medida em que amadurecem, devem ser cada vez mais livres para decidir por si mesmos acerca do que desejam aprender, onde querem instruir-se e formar-se. (p. 323). Asseveram que estudantes, tanto jo- vens quanto adultos, devem poder exercer responsabilidades, como sujeitos não só da própria educação, mas de toda a atividade educativa (p. 326). Recomendam ainda a indi- vidualização e a personalização da educação, ou seja, o encorajamento do autodidatismo (autodidaxia). Em mais esta oportunidade os autores desconsideram que ainda em 1918 Durkheim (p. 25) estabelecia nítida fronteira entre o ensino médio e a educação superior. Para o autor, na dinâmica de funcionamento dos liceus, os alunos são submetidos à rígida disciplina. No entanto, no interior das univer- sidades, os estudantes têm liberdade acadê- mica para escolher as disciplinas pertinentes aos respectivos interesses. Assim, continuam os responsáveis pelo re- latório, a educação não deveria se definir por conteúdos determinados, que professores transmitem e estudantes assimilam, afinal, corresponde a umprocesso pautado pela diver- sidade de experiências vividas pelos estudantes e, apenas assim, eles aprendem a se exprimir, a se comunicar, a interrogar o mundo e a formar-se sujeito. Destaca-se que desde Piaget há ciência de que a aquisição de conhecimento não ocorre por acumulação de conteúdo e sim por sua reorganização (PÁDUA, 2009, p. 23). Frente ao exposto, para os autores torna-se imprescindível diversificar o formato das ins- tituições educacionais e flexibilizar a arquite- tura de cursos, currículos e disciplinas (p. 296), particularmente, “transformar as universidades em instituições de vocação múltipla” (p. 342). Entende-se que essa recomendação requer alguma reflexão na medida em que a expansão do ensino no século XX faz emergir a escola de massa, ambiente propício a distintos atores reconhecerem a Educação como uma espécie de solução para todos os males. Nessa trilha, advoga-se que ela influi na redução do desem- prego e da violência entre os jovens; namelhoria da renda, na redução das desigualdades sociais e no fortalecimento da democracia; na elevação da qualidade e esperança de vida da população; na ampliação da competitividade das empresas, e dos países etc. (DEMO, 2005). Reivindica-se à escola o cumprimento de algu- mas missões sociais e assistenciais. A miséria, a fome, os maus-tratos, entre tantos outros, impossibilita um projeto educativo coerente, e assumir estas tarefas não significa defini-las como missões primordiais da escola.
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