Revista da ESPM - STE-OUT_2011

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 84 MÁRIO RENÉ – Iniciamos mais uma discussão para a Revista da ESPM , com um tema atual, ousado, polê- mico e complexo: a Escola do Futuro. GRACIOSO – Esta é uma discussão polêmica. Basta analisar os últimos resultados do ENEM. Escolas, que deveriam atingir boas notas em qualquer tipo de avaliação, estão mal posicionadas no ENEM. Há os que dizem que a Escola do Futuro realmente já existe. Mas o fato é que a educação superior de hoje é fruto dos iluministas dos séculos XVIII e XIX. E o grande desafio é mudar esse panorama. De um lado, temos a escola tradicional, que é baseada na transmissão de conhecimentos, na disciplina, na avaliação sistemá- tica e na memorização para produ- zir resultados. Do outro lado está a educação mais humanista, voltada para o papel do educador, que faz florescer o que há de bom em cada um de nós, no nosso íntimo, nosso âmago, com base naqueles valores típicos do humanismo clássico, como a incerteza, o ceticismo socrá- tico, a intuição e a criatividade. Para complicar ainda mais as coisas, temos o advento das novas tecnolo- gias da comunicação influenciando no processo da educação. Nós, que temos experiência de sala de aula, sabemos muito bem sobre as mu- danças que têm havido na atitude dos alunos e as expectativas deles em relação ao trabalho do professor. Não será inventando o futuro que iremos resolver o problema e sim pela observação daquilo que já vem sendo feito de bom e de ruim. MARIA TEREZA – Essa análise é muito pertinente. Hoje, além do ENEM, temos o World Economic Forum, no qual o Brasil está mal posicionado em termos de competi- tividade, infraestrutura e educação, que continuam sendo quesitos não melhorados. Se ao menos tivésse- mos aquela educação tradicional d iscipl inadora que produzisse algum tipo de resultado, até que estaríamos em melhor situação. Outros países emergentes têm obtido resultados razoáveis com essa educação tradicional. Nós não temos nem uma coisa nem outra. Estamos fracassando tanto na edu- cação primária e secundária quanto na educação superior. É estrondoso o número de escolas particulares criadas no país nas últimas décadas e que estão fazendo um ensino de massa, às vezes, com qualidade duvidosa. Por outro lado, temos as universidades públicas com uma educação extremamente bem po- sicionada tanto em termos de país quanto em termos internacionais. É um grupo composto por universi- dades federais e escolas privadas de elite, como a ESPM e a FGV. Aí sim estamos tentando trabalhar essa formação humanista crítica, de um pensar o mundo na sua complexi- dade e conectividade para formar cidadãos globais. Quando fazemos essas comparações internacionais vemos que estamos tendo sucesso. Mas o que me deixa preocupada é o conjunto da obra. Nossa missão é formar essa elite para um mundo complexo e um Brasil contraditório. GRACIOSO – Nós, brasileiros, somos capazes de fazer boa educação. É preciso apenas deixar de fazê-la para a elite. MARIA TEREZA – Mas é preciso pensar em diferentes modelos, mais eficazes e competentes para o conjunto da população. Se esti- véssemos aproveitando bem o que existe de arsenal de novas tecno- logias e métodos, teríamos uma situação diferente. MÁRIO RENÉ – Em termos de inova- ção, o que está sendo feito dentro e fora do Brasil? Uma das teorias diz que a escola tradicional, com uma sala de aula e o professor na frente, vai morrer no médio prazo. Nela, os alunos se sentem em uma situação medieval, a começar pela chamada, que vai do Alberto até a Zélia. O sis- tema é antigo, a moçada está vindo com superequipamentos e, infeliz- mente, não se faz o “meio de campo”. LINCOLN – Meu foco é no ensino superior e devo declarar que sou uma pessoa da área de Adminis- tração ou Ciências Sociais. Neste contexto, nosso esforço na educação profissional de nível superior segue } Devemos rea l i zar um upgrade em todos os deta l hes , da es- tét ica à ét ica da i nst i tu ição de ens ino. Temos de ser mui to con- s i stentes e coerentes . ~

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