Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 87 } Há os que d i zem que a Esco- l a do Futuro rea lmente j á ex i ste. Mas o fato é que a educação super i or de hoj e é f ruto dos i l u- mini stas dos séculos XVI I I e X I X. ~ crianças e jovens tinham de ajudar os pais nas fazendas. Hoje, temos máquinas que fazem esse trabalho e já podemos pensar com mais criatividade. Poderíamos começar um curso toda vez que 30 alunos estivessem prontos. No Brasil não se aceita o home study. Por lei, a criança precisa ir para a escola, mesmo tendo pais que tenham doutorado. No exterior, há univer- sidade que aceita aluno com treze anos de idade. Há quase 100 anos, a Universidade de Chicago, uma das melhores instituições dos Estados Unidos, aceita até adolescentes de 15 anos que demonstram capaci- dade. Isso aqui é absolutamente inviável. Quando surgem modelos novos, o Brasil simplesmente vira as costas e ignora. Estamos acostuma- dos a uma camisa de força colocada pelo Ministério da Educação e pelos Conselhos Estaduais de Educação. ALEXANDRE – Por mais rápido que esteja o acesso à informação, por mais disponível que esteja a teoria hoje, o cérebro humano não acom- panha essa velocidade. O que se conhece sobre o domínio, o exper- tise em determinada área continua apontando para dez mil horas de treinamento naquela atividade em particular. Os melhores pianistas internacionais, por exemplo, come- çam a treinar quatro horas por se- mana aos cinco anos de idade. Aos 18 anos treinam de seis a oito horas por dia. Aos 20 anos passam para 10 horas diárias. Mas se somarmos tudo isso teremos as 10 mil horas de treinamento. A sociedade chinesa é, particularmente, calcada nessa visão, e um livro muito interessante e provocador lançado recentemente no Brasil é o Grito de Guerra da Mãe-Tigre (Editora Intrínseca). Nessa obra, a americana Amy Chua, que é filha de chineses, conta como criou as filhas, hoje adolescentes, além de comparar os modelos de criação oriental e ocidental, explicando por que os chineses conseguem criar filhos bem-sucedidos na escola e na carreira. Por mais que a tecnologia esteja disponível, o ser humano ainda funciona a uma velocidade herdada da nossa seleção natural. Esse é o nosso desafio: descobrir qual seria o papel interessante para o professor na sala de aula. Concordo que a informação está cada vez mais disponível. Os alunos chegam hoje já tendo lido artigos mais recentes do que o professor, isso é até mais comum no caso dos softwares. Na ESPM, por exemplo, temos muitas aulas de computação gráfica e, às vezes, acontece de o aluno ter uma versão do software mais recente do que a do professor. Então, qual é o papel do professor? Se ele simplesmente limitar-se a repassar a informação, vai perder para o computador. GRACIOSO – Deve dar vida à verdade. ALEXANDRE – Como conseguir que o aluno se dedique às nossas propostas de crescimento e desen- volvimento na mesma proporção do videogame em que passa o final de semana inteiro jogando e acumula 50 horas de treino? O professor precisa conquistar o engajamento dos alunos. Seu papel é fundamental para trazer à vida esse conhecimen- to. Para tanto, é necessário oferecer oportunidades diferenciadas de autodesenvolvimento. Quando ouço dizer que a profissão de docente está desafiada pela tecnologia, que a tornará desnecessária, intimamente dou risada, porque ter acesso ao con- teúdo não significa que o seu cérebro dominou esse conteúdo. Para isso é preciso treino, engajamento, disci- plina e um bom professor. GUSTAVO – O mais espantoso fato em relação à Escola do Futuro encontrei no interior da Índia, na década de 80: uma árvore gran- de, um homem em pé e crianças sentadas ao seu redor. Por ser um país pobre, a Índia investe todos os recursos educaciona is para capacitar ao máximo seus profes- sores. “Quando tivermos dinheiro para construir escolas, o faremos. Agora queremos nos concentrar nisso”, disse meu guia na região. O que me fascinou na fala dele foi o papel que aquele homem tinha frente às crianças: “ajudá-las a se tornar aquilo de que são capazes de ser.” Da década de 80 até hoje

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