Revista da ESPM - STE-OUT_2011
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 90 } Não me lembro de nenhuma escola – medicina, administração ou propaganda e marketing – que pro- meta a seu f ilho sair mais amadurecido do curso. ~ informática emNova Déli e, olhando para os meninos de rua, teve a ideia de fazer um buraco na parede da empresa, colocar um monitor, um teclado grande, uma CPU e observar o que iria acontecer. Os meninos não sabiam inglês e toda a informação do computador estava em inglês. Nos primeiros dias havia algumas crianças circulando na frente do computador. Depois de uma se- mana, vieram bater na porta da empresa avisando que o computador era lento e que eles deveriam colocar um acelerador. Em duas semanas já estavam falando inglês técnico para poder operar a máquina. Moral da história: você não precisa ter uma sala de aula, necessariamente, para conduzir o conhecimento. Outro ponto deficitário no Brasil é o espaço dado para a autoaprendizagem, que é totalmente proibida em todos os níveis de ensino, com exceção da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Na Inglaterra, por exemplo, a pessoa pode estudar em casa Química Or- gânica ou Administração Financeira por conta própria, pela internet, livros e entrevistas com amigos que trabalham na área. Depois, essa pessoa pode ir à universidade mais próxima e fazer o exame de Química Orgânica, sem ter frequentado a sala de aula. A prova é aplicada e se a pessoa passar recebe o diploma. Isso motiva o surgimento de um aluno proativo, motivado, que gosta de aprender e não precisa necessa- riamente de um intermediário para isso. Mas toda a estrutura em volta proíbe que isso ocorra legalmente. GRACIOSO – Gostaria de começar esta segunda parte referindo-me a uma observação da Maria Tereza. Está tudo bem com essa meia dúzia de boas escolas que, na verdade, já fazem muito do que está sendo proposto aqui. Nossa preocupação maior é com os outros 99,9% de brasileiros. Como contribuir para que esta visão nova da educação se difunda com mais rapidez? Esse é o grande desafio. GUSTAVO – Com relação a isso, a questão exposta pelo Alexandre é importantíssima. Quando ele descreveu como um professor faz para que um aluno se interesse pelo assunto, tanto quanto esse aluno se interessa por um jogo eletrônico ao qual ele se dedica por muitas horas. MÁRIO RENÉ – Ou o computador do buraco na parede da Índia. GUSTAVO – Exatamente. Estamos mexendo comalgo que os indianos já sabiam, que é o papel do homem em pé, ensinando as crianças sentadas: ele é o descobridor dos interesses nascentes, aquele que ajuda esses interesses a se realizarem graças ao que ele aporta para essa expansão. Estamos lidando como cerne damo- tivação. Crianças são criaturas curio- sas. Quando pequenas, perguntamo tempo todo e querem saber o porquê de tudo. Essas criaturas tão desejosas de saber adentramnesses ambientes, que “esterilizam” por completo, e a aula se torna uma coisa enfadonha onde a criança é levada à força. Há algo errado no papel do homem que está em pé, em relação às crianças que estão sentadas. ALEXANDRE – Aqui entra a impor- tância de desafiarmos nossos alu- nos a tornarem-se aquilo que eles podem vir a ser. Não só fomentar, mas desafiar. É interessante anali- sar os resultados do ENADE, que são acompanhados por um extenso questionário socioeconômico. Uma das questões é se o aluno se sentiu desafiado ao longo do curso supe- rior. Na grande maioria das carrei- ras, o nível de desafio que os alunos reconhecem no curso superior é baixo. Eles aparecem na sala de aula para “cumprir tabela”: “Faço o que for possível. O professor vai me passar de qualquer forma”. Essa é a visão que se tem ao ler os relatórios do ENADE. Então, a importância do desafio para o aluno é fundamental. GUSTAVO – Principalmente naqueles casos em que o aluno não sabe o
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