Revista da ESPM - STE-OUT_2011

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 91 } A tecnologia é maravilhosa, mas o aluno não sairá com mais conhecimento; sairá fascinado com o aparato da escola. ~ } Todo o sistema de ensino tem regras que nos amar ram. ~ quanto mais ele é capaz, além do que ele crê que é capaz. Desafiar é ajudá-lo também a descobrir que ele pode mais. LINCOLN – Diante da aceleração que a tecnologia dá ao processo educati- vo, tenho pensado ultimamente na questão do amadurecimento, que é uma variável independente daquilo que a tecnologia pode dar. Estou lendo o livro Origens culturais da aquisição do conhecimento humano , de Michael Tomasello, diretor do Instituto Max Planck de Antropo- logia Evolutiva. E é interessante quando o autor mostra a diferencia- ção dos símios e dos mamíferos em geral. É uma adaptação que precisa de meses, sendo que, em alguns anos, já são capazes de sobreviver. O amadurecimento do ser humano precisa de 18, 20 anos e, no entanto, a espécie humana foi a que conse- guiu o maior alcance de adaptação desde os 250 mil anos antes da nos- sa era. É também a que se expandiu e se adaptou, próxima à perfeição. É que justamente a ontogênese pode se realizar de forma perfeita. Quer dizer, cada indivíduo precisa de tempo para amadurecer, se adap- tar e com isso a sociogênese, que é típica da nossa espécie, pode jogar para frente – no que ele chama de catraca cultural – jogar a adaptação de uma geração para outra. A ante- cipação de etapas e de aquisições de habilidades e conhecimentos pela tecnologia pode criar um conflito e gerar pessoas que precisam do con- tato humano. E só lá na frente vão descobrir coisas sobre sua vocação e seu relacionamento com o outro, muito tempo depois do aprendizado que uma escola humanizada pode- ria proporcionar. GRACIOSO – A Harvard Business School mudou, recentemente, os métodos. Até o sistema de casos – que teve início há 100 anos – foi trocado por cases que dão mais va- lor à intuição. Isso é curioso porque os cases da Harvard têm 50 tabelas, pelo menos, para o aluno cruzar e calcular no computador. Eles aca- baram com tudo isso, optando por cases mais curtos, que dão ao aluno mais oportunidades de exercer a própria intuição. A justificativa da escola para essa mudança foi a se- guinte: “O aluno da Harvard vem para cá com três objetivos: estudar, socializar e dormir. Ele logo desco- bre que não dá tempo para fazer as três coisas. Imaginem o que ele vai deixar de fazer?” Jamais deixarão de socializar, porque é o que sentem ser o mais importante para a futura carreira deles. Talvez esse seja o desafio e também a solução. ALEXANDRE – O cérebro humano, quase sempre, toma a decisão na instância emocional antes de envol- ver as instâncias racionais no pro-

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