Revista da ESPM - STE-OUT_2011
s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 95 } Hoje, a grande dif iculdade do professor não é causada pelas novas tecnologias, mas pelo au- mento da complexidade da nossa sociedade. ~ ES PM um solfejo. Ela não atinge uma determinada nota, mas ele insiste dizendo que ela é capaz. Pude ver no rosto dela que não adiantava ele insistir porque ela não acreditava ser capaz. Ainda assim, o professor ensinou um exercício, segurou as duas mãos da aluna e pediu para ela fazer a escala. Ela foi subindo, subindo e quando ia dar o salto para a tal nota, ele fez um movi- mento com as mãos da aluna e a nota saiu clara. Ele a distraiu por um instante da descrença em que ela estava sem saber que poderia alcançar o objetivo. Esse professor terá o respeito dessa aluna pelo resto da vida. Mais ainda: ela des- cobriu que tinha asas e podia voar. Esse é o professor que precisamos, seja de pé embaixo de uma árvore na Índia, seja em um teatro. Não importa como são as paredes, o que importa é a visão de sentido daquele que ajuda um ser humano a poder tornar-se, plenamente, o que ele é capaz de ser. Era isso que o indiano estava dizendo. LINCOLN – Educação é algo criado por humanos pa ra out ros hu- manos, mas como o filósofo da informação Pierre Lévy historiou muito bem: os instrumentos de conhecimento moldaram a nossa cultura e a forma de funcionamen- to do nosso cérebro ao longo dos séculos. Isso vem ocorrendo desde as primeiras formas de criação de conhecimento. Como vamos en- carar a tecnologia que vai moldar a forma de pensar e de agir dos humanos no futuro? O que o ser humano precisa fazer para não ser simplesmente arrastado pelo movimento da tecnologia, que vai colocando gadgets nas mãos dele e o transformando em máquina? É o que estamos assistindo o médico e cientista Miguel Nicolelis testar no Rio Grande do Norte: a implan- tação de chips de modo que haja uma comunicação direta cérebro versus máquina, sem qualquer intermediação linguística ou sim- bólica. O celular e o computador são próteses para nós, diante das quais estamos perdendo a liber- dade de escolha. LITTO – A sala de aula é um lugar, um templo precioso demais para ser usado na transferência de co- nhecimento. Os alunos precisam aprender o conhecimento antes de chegarem à sala de aula, que deve ser usada para analisar, discutir, fazer coisas que sozinho o aluno não consegue fazer em casa, como trocar ideias. É mais do que passar conhecimento, porque na aplica- ção das teorias é onde o aluno, realmente, reforça o que aprendeu. Daí a importância na mudança da postura do professor no sentido de não dar uma aula formal, mas sim exercícios para a solução de problemas em grupo. MARIA TEREZA – Dentro das escolas e universidades precisamos de um upgrade , para que todos partilhem uma nova prática cotidiana. Para que não nos tornemos meros apên- dices ou repetidores da máquina, devemos realizar um upgrade em todos os detalhes, da estética à ética da instituição de ensino. Temos de ser muito consistentes e coerentes. ALEXANDRE – Ética. Estava sentin- do falta dessa palavra. Temos de relembrar sempre desse conceito, até porque a busca pela verdade é um caminho sem fim. A verdade muda conforme mudam os fatos e o conhecimento evolui. Já a ética é um valor até mais sólido para tra- balharmos com os nossos alunos. GUSTAVO – Mas não nos esqueça- mos de que não podemos ter ética sem verdade. ALEXANDRE – Ao contrário, o que não temos é verdade sem ética. MÁRIO RENÉ – A Escola do Futuro. Esse tema é absolutamente ines- gotável. Talvez fosse o caso de retornarmos ao assunto. Agradeço a presença de todos. GRACIOSO – Agradeço a participa- ção. Muito obrigado a todos!
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