Revista da ESPM - SET-OUT_2007

32 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 cultural. Um caso ilustrativo é o de um executivo brasileiro, trabalhando na Holanda, que, ao lembrar ao seu chefe holandês que ele teria de fazer a sua avaliaçãode desempenhonaquele dia, recebeu como resposta “isto já está na minha agenda, você não precisa me lembrar”. Para o brasileiro a resposta soou agressiva e rude e a sua vontade foi , literalmente, “de dar um tranco no cara” mas, claro, ele “se segurou”. No Brasil, conforme o seu próprio relato, ele provavelmente teria de lembrar ao seu chefe, que, certa- mente envolvido comsuas coisas, não teria se lembrado. Este responderia ao lembrete com um “bom lembrar, vou fazer sim”, e o seu esquecimento teria sido em parte neutralizado pela sua resposta afável. Embora o holandês tenha respondido à sua intervenção com um sorriso e ele, brasileiro, sabia que não precisava lembrá-lo, o que o atingiu emocionalmente foi a falta de qualquer elomais próximo ou pessoal na resposta do outro. Lembrar para ele não significava considerar o seu chefe relapso, mas uma sinalização personalizada de que “aquilo (a avaliação do seu desempenho) era importante para ele”. Procurar entender a “cabeça do outro” ou “como as coisas funcionam fora do Brasil” adquire, nos discursos desses profissionais, uma dimensão de desafio, na medida em que, muitas vezes, o comportamento do “outro” é metabolizado por “nós” de forma inversa do significado que ele tem para o “outro”. Gerência intercultural Foto: Levi_sz

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