Revista da ESPM - SET-OUT_2007
34 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 brasileira de entender “o outro”. O interessante aqui é o movimento que os brasileiros fazem nesta direção e que consideram absolutamente natural. São eles que, segundo estes executivos, tentam entender a “ca- beça do outro” que permanece firme no seu próprio espaço social. Esse movimento “para o outro” independe da posição hierárquica desses profis- sionais.Verifica-se tanto nos brasileiros em posições sêniores, como entre os executivos médios. Mais ainda, permite que os brasileiros construam uma visão de abertura cultural por oposição aos demais, principalmente Os horários de trabalho no exterior são muito mais disciplinados do que no Brasil, permitindo aos executivos despenderem maior tempo com a família e melhorando, conseqüente- mente, a sua qualidade de vida. filhos a oportunidade de aprenderem outras línguas, de conhecerem novas realidades, de saberem o que é ci- dadania de fato semaomesmo tempo perderem a “doçura” das relações familiares e interpessoais brasileiras, forma um quadro bastante atrativo para todos eles. Neste contexto, a oposição público e privado que esses executivos estabe- lecem, através da distinção entre “nos- sas” relações interpessoais calorosas e as distantes e impessoais por parte “deles”, e a qualidade de cidadania “deles” versus a experiência brasileira da “desigualdade” reproduz em outro nível uma forma clássica de falar sobre a nossa identidade por parte de nossas elites, conforme explorei em um artigo intitulado“Jeitinhos eAmbigüidades na Sociedade Brasileira”. Naquela opor- tunidade indiquei que quando exami- návamos a construção da identidade nacional, no pensamento intelectual brasileiro, de umponto de vista históri- co verificava-se uma relação inversa entre nação e sociedade. A nação, o conjunto de instituições econômicas, políticas e sociais brasileiras, era repre- sentada de forma predominantemente negativa, enquanto a sociedade, o nossomodelode relações interpessoais, familiares e raciais, aparecia sempre através de um viés positivo. O mesmo ocorre no discurso desses executivos. Uma identidade brasileira positiva é sempre construída em torno da quali- dade das nossas relações interpessoais; outramais negativa aparece quando saímos do ambiente do trabalho e mergulhamos na experiência de viver em países com poucas desi- gualdades e muita cidadania. Um outro aspecto relevante, enfati- zado por todos, foi a disponibilidade Gerência intercultural Foto: Scott Liddell
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