Revista da ESPM - SET-OUT_2007

37 SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Vladimir Safatle No entanto, há um dado a mais que foi até agora pouco explorado e que deveria ser objeto de uma reflexão mais profunda. Para além do fato de serem grandes países com grandes populações e desenvolvimento econômico retardatário, Brasil, Rússia, Índia e China têm ao menos uma característica fundamental emcomum: todos eles se afastaram de reformas classicamente liberais marcadas pelaaberturaglobal demercados epelo desmantelamentodopapel reguladordoEstadono interior da economia. Contrariamente aos antigos Tigres Asiáticos, nenhumdesses países adotou ou permaneceu no que se convencionou chamar de “Consenso de Washington”. Isto talvez indique como esses quatropaíses parecemquerer reeditar umaversãopeculiardoquepodemosentenderpor “capitalismode estado”. Casoestahipótese esteja correta, podemos nos perguntar se não haveria uma tendência, impulsionada pelo núcleo mais crescente do capitalismomundial, de se reconsti- tuir como capitalismo de Estado. OMOTOR IMÓVEL DA ECONOMIA A partir dos anos 30 do século XX, e principal- menteapós a IIGuerra, vários foramos autoresque indicavama tendênciaauma formadecapitalismo na qual o Estado aparecia como organizador do desenvolvimento econômico e como gestor de políticas de constituição de mercados internos através de sistemas de impostos e distribuição de benefícios. A figura mais bem conhecida de tal tendência foi a constituiçãodas chamadas “socie- dadesdeproteçãosocial”, sociedadesquepodiam conviver comtaxas dedesempregodedois dígitos porque o Estado, ao mesmo tempo, defendia empresas nacionais compolíticas protecionistas e taxava tais empresas a fimde financiar programas que evitavam a pauperização social e o desman- telamento dos mercados internos. O Estado aparecia, assim, comouma espéciede “formação de compromisso” que garantia mercados para empresas nacionais, sejapormeiodaconstituição de mercados internos, seja pela conservação de relações econômicas privilegiadas com antigas As conseqüências que são apontadas desta nova configuração da economia capitalista restringem- se, normalmente, à afirmação de um mundo mais multipolar, onde a divisão entre países do Norte e do Sul tenderia a ser mais fluida. Excluindo a florescente indústria indiana da informática, a base econômica desses países é eminentemente “clássica”. Ð Fotos: Google Images

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx