Revista da ESPM - SET-OUT_2007
Mesa- Redonda 64 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 MAURICIO – Tenho certeza de que buscar razões para decisões de uma empresa, em questões associa- das exclusivamente aos negócios, é geralmente um erro. O mercado de cosméticos realmente cresce no Brasil a taxas de 10%; chegou a 12% nos últimos anos. Também é verdade que a Natura cresceu nesses anos a taxas de 20% e 25%. Somos a maior empresa de cosméti- cos do Brasil, maiores, no setor, do que as grandes multinacionais como a Unilever ou Avon – eles têm a metade do nosso market share . São poucos os países do mundo onde uma empresa que não esteja entre esses nomes seja líder, com esse tamanho. Nós sabemos que o teto não deve estar muito longe... GRACIOSO – Significa que o foco dos seus esforços – daqui para frente – será maior lá fora do que aqui dentro? MAURICIO – A curva de eficiência do investimento começa a encontrar um patamar. Não quer dizer que a gente não continue sendo inova- dores e agressivos, no Brasil, porque temos ainda espaço – e digo isso, de fato, para os nossos concorrentes ouvirem. Agora, lá fora, há outra questão, que na história da Natura é de suma importância, que é a visão. Nenhuma de nossas três em- presas – mesmo com participação governamental, no início – nasceu sem um sonho. É difícil achar uma empresa bem-sucedida, com visão bem posicionada, que não tenha tido um sonho inicial. No caso da Natura, sonhar um mundo melhor está no nosso DNA. Cremos que nossa proposta tende a ser universal. Se isso se comprovar, não diria que vai derrubar, mas baixará muitas barreiras. Boa parte delas são as chamadas culturais, e nós temos a crença de que nossa proposta se aplica às necessidades de muitos mercados. Faz parte da nossa visão ser uma empresa de importância mundial – está escrito na pedra – então temos de ir lá. GRACIOSO – No Brasil, a Natura venceu por várias razões, mas – na opinião do Guilherme Leal, a quem entrevistamos, uma vez – foi essencial a filosofia que ele sin- tetiza na famosa expressão “ética e estética”. Esta filosofia ajuda a vender lá fora também? MAURICIO – Faz parte dessa pro- posta universal, quando se fala de transparência. Em todos os países que conheci jamais ouvi que trans- parência não fosse um valor ou a ética e a estética. Podem não prati- cá-los, mas valorizam. Então, o que nos leva a pensar que podemos fazer alguma coisa lá fora é o que nós somos. Queremos ser uma empresa de expressão mundial. GRACIOSO – Não quero parecer parcial, mas a Odebrecht tem uma filosofia de empresa que já foi des- crita como luterana... FELIPE – Independentemente da origem, se familiar ou estatal, é bem o que o Mauricio falou: uma condição sine qua non para as grandes empresas que se mostram vencedoras, local como interna- cionalmente, é a questão de uma cultura forte. A palavra “Cliente” é sempre escrita com “C” maiúsculo dentro da Organização Odebrecht e não é simplesmente uma questão de semântica. Um presidente im- portante da Embraer foi colaborador da Odebrecht durante muitos anos – o Mauricio Botelho. Ele percebeu que havia similaridade entre as culturas, em uma série de aspectos. Em relação a essa questão de ser luterano – não sei onde o senhor exatamente viu isso – mas é a mais pura realidade. A família reflete bem isso na pessoa do seu atual presi- dente, Marcelo Odebrecht. Ele passa isso, enfaticamente, para o resto da organização: disciplina e ética em relação à conduta e à maneira atual pela qual se faz negócio. Isso no mundo inteiro é um diferencial competitivo; pode ser entendido e é um valor indiscutível. ILAN – Tudo bem, mas se a visão e a cultura não estiverem associadas a uma estratégia e a uma estrutura, não vão longe. Dão certo, no exte- rior, as empresas que acumularam e internalizaram vantagens competi- tivas importantes, e conseguem ex- plorar essas vantagens no processo de internacionalização. FELIPE – Nessa linha da confiança do homem na delegação planejada – como você expôs –, o ciclo, principalmente numa empresa de engenharia e construção, é bastante volátil. Há períodos de “milagre econômico”, períodos de recessão – e isso faz com que o executivo desse meio conheça as dificuldades “GLOBALIZAR NÃO FOI UMA ESCOLHA, MAS UMA NECESSIDADE.”
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