Revista da ESPM - SET-OUT_2007
Mesa- Redonda 66 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 É um exemplo de como o capital humano é fundamental. HORÁCIO – Sem dúvida, a indús- tria aeronáutica está centrada no domínio do conhecimento e isso foi percebido com grande felicidade há mais de 60 anos. Foi determi- nante, para a criação da Embraer e para a sua expansão, nos anos 70 e também foi percebido pelos novos acionistas, controladores da Embraer, que assumiram a empresa numa situação financeira muito difícil após a sua privatização. En- tão apostar em pessoas, tanto no plano técnico quanto empresarial, é fundamental para o crescimento, a preservação da Embraer e a sua expansão em nível global. A Em- braer tem investido uma média de 20 a 25 milhões de dólares por ano no treinamento e especialização de pessoas, isso significou, nos últimos cinco anos, algo da ordem de 110 milhões de dólares. Temos um pro- grama de mestrado in house que utiliza os melhores especialistas do país, tanto nossos como das melho- res universidades. Essa aposta da Embraer no homem é fundamental. Quem desenvolve projetos de 1 ou 2 bilhões de dólares, com seis meses a menos do que a concorrência, tem um diferencial competitivo. Na Embraer, num quadro de cerca de 24 mil empregados, temos 4.500 engenheiros. Isso é fundamental, assim como é fundamental para o nosso crescimento podermos contar com bons líderes empresarias. Cos- tumo representar os fundamentos de qualquer empreendimento produtivo em quatro grandes pólos: recursos tecnológicos, processos, organiza- ção e, acima de tudo, pessoas. São pessoas que, com suas capacidades de transcender, conseguem superar limitações que os outros elementos possam ter momentaneamente. JR – Como vocês têm atuado na área específica de “exportação de pessoal”? HORÁCIO – Nossa estrutura de marketing e vendas é descentrali- zada, ao contrário de alguns concor- rentes. Temos uma base nos Estados Unidos, para cuidar da América do Norte; uma base na Europa, em Paris, que cuida de Europa, África e Oriente Médio. E uma na China, com desafios tão peculiares, que é preciso uma na China e outra na região da Ásia do Pacífico, em Cingapura. JR – De modo geral, quantos bra- sileiros e quantos estrangeiros exis- tem nesses escritórios? HORÁCIO – Na medida em que os escritórios se tornammais amadure- cidos e competentes, a tendência é apoiar-se em mão-de-obra e com- petências locais. Na China, por exemplo, temos quase 300 pessoas, dos quais apenas 8 são brasileiros. Para isso, a comunicação tem um papel extraordinário. Imaginem uma empresa que, em 1997, tinha 3.200 empregados, e hoje tem 24 mil, o que significa como desafios, preservação da cultura, dos valores, da maneira brasileira de ser, como inocular isso sem ofender caracterís- ticas culturais de outras regiões de outros países. GRACIOSO – Qual a língua usada? HORÁCIO – A língua usada é o inglês, mas, evidentemente, usar inglês na China não faz muita dife- rença. Temos alguns elementos de grande valor, que são chineses e alguns têm a característica rara de serem competentes como brasileiros e como chineses. Isso foi funda- mental para o nosso sucesso. No nosso escritório da França, por exemplo, houve um período – em 1999/2000 – em que tínhamos 220 funcionários de 26 nacionalidades diferentes e dezoito idiomas. Mas a língua de negócio é o inglês. JR – Gostaria de ouvir o Mauricio, nessa mesma linha... MAURICIO – Bem-vindos ao clube. Uma discussão séria, nas empresas de países emergentes que se interna- cionalizam, é o número de pessoas verdadeiramente internacionais que temos. Dispostas a sair do país, há muitas; internacionais são poucas. Nem toda pessoa que fala inglês é internacional, pode até falar quatro ou seis línguas. Ser internacional começa com a aceitação das dife- renças. Não adianta ter fluência em inglês, se a pessoa não entende que o novaiorquino é diferente do bra- sileiro, diferente do cara que mora em Los Angeles ou em Seattle e mui- to diferente do francês. O caminho mais simples e rápido, para nós, foi “O ESCRITÓRIO DA FRANÇA TINHA 220 FUNCIONÁRIOS, 26 NACIONALIDADES E 18 IDIOMAS.”
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