Revista da ESPM - SET-OUT_2007

Brasil multinacional 67 SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M escolher colaboradores brasileiros bem qualificados e mandá-los para fora. Mas as pessoas vão de país a país e, um dia, tornam-se insufi- cientes. Então o que fizemos foi: se precisamos de um chinês, contrata- mos um, e o trazemos aqui, porque é mais fácil conhecer a Natura do que conhecer a China. Temos um colaborador russo conosco há dois anos, e ele está conhecendo a Natu- ra. Claro que é mais simples para ele conhecer a Natura do que seria para nós conhecermos a Rússia. Por isso digo que não é um caminho só de ida; é de ida e de volta, é abrir as portas para pessoas que tenham essa vivência internacional para elas ganharem conhecimento da empresa aqui. E quando falamos de bens de consumo, isso é fundamen- tal porque a expertise necessária lá fora tem mais a ver com o conhe- cimento dos mercados do que dos produtos. O produto é bem menos complicado. E é preciso, também, uma certa dose de humildade. Morei em alguns países e trabalhei em em- presas de diferentes nacionalidades. As empresas americanas chamam de “internacional” tudo que não é americano; as brasileiras, tudo que não é brasileiro; as argentinas, o que não é argentino; as francesas, o que não é francês. Então, internacional é, basicamente aquilo que não sou eu. É a soma dos não-internacionais, dos não-eus. O ponto é ter humildade de entender que a soma dos não-eus, às vezes, nos inclui. É poder conviver com 18 nacionalidades diferentes e conseguir, sem problemas, dizer para o colega “eu não gosto dessa comida que você come”. Faz parte do politicamente correto, da inter- nacionalidade guardar a essência respeitando o outro. JR – Quem sabe quando você e eu começamos na propaganda, Gra- cioso, as multinacionais eram mais “imperialistas”. Elas chegavam aqui, com suas normas e procedi- mentos e impunham tudo – claro que estou simplificando. Mas esse depoimento do Mauricio não leva a esse tipo de reflexão? GRACIOSO – Parece ser uma das razões do sucesso dos emergentes como multinacio- nais, e é curioso; mas deve ter a ver com a distância criada, entre os países desenvolvidos de vanguarda e o resto do mundo, e que torna cada vez mais difícil a compreensão entre os dois ex- tremos. O Brasil de certa forma é “classe média”. No Brasil é mais fácil entender o ponto de vista americano do que é, talvez, para o próprio americano, para quem está cada vez difícil entender o resto do mundo... A Odebrecht já trouxe alguma coisa de fora para cá? FELIPE – A linha da Odebrecht tem sido usar os executivos locais, desenvolvidos e aculturados aqui no Brasil. Essas pessoas vão para fora e encarregam-se da gestão e do desenvolvimento da empresa, procurando treinar intensivamente a mão-de-obra local. Assim, cada vez é menos necessária a presença dos brasileiros em cargos de alta di- reção. Respondendo à pergunta do Prof. Gracioso, sim. Tivemos uma experiência, no Equador, em ter- mos de administração contratual. Lá eles têm um tipo de adminis- tração contratual muito acima do que se faz no Brasil, em termos “É DIFÍCIL ACHAR UMA EMPRESA BEM-SUCEDIDA QUE NÃO TENHA TIDO UM SONHO INICIAL.” Ð

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