Revista da ESPM - SET-OUT_2007
84 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 de otimismo e de pressa. Causa-me estranheza o lançamento prematuro de uma Comunidade Sul Americana, que é uma idéia boa, mas não pode vir tão cedo nem ser lançada precariamente. Numa reunião re- cente, o Chavez questionou: por que comunidade? Vamos chamá-la de União Sul-Americana. Ora, a União Européia levou 50 anos para passar de comunidade, de zona de livre comércio dos países, depois um mercado comum, até chegar ao que, sem dúvida, é espetacular, admirável: a união de 27 países. Essa ênfase excessiva do Mercosul faz com que o Brasil siga muito apegado aos interesses defensivos de seus vizinhos. Acho que o Brasil deveria entrar para a Organização para a Cooperação do Desenvolvi- mento Econômico, um grupo que tem normas de comportamento, no plano econômico, tem diálogo livre para acontecer isso. Em 1993, o secretário geral do Itamarati disse que nos aproximaríamos se a Índia e a China entrarem. Ora, a Índia e a China estão pouco ligando para o que o Brasil faça ou deixe de fazer, o Brasil tem de fazer o que deve, o que lhe convém, sem ficar atrelado à Índia ou à China... Resumindo, quero dizer aos senhores que temos de evoluir nessa visão externa de um mundo antagônico, constituidor de barreiras, ou os nossos embates com os EUA. Já passou o tempo de ser anti-americano. No plano comer- cial, o nosso momento com os EUA é ótimo; temos superávits de quase 10 bilhões de dólares, um quarto do superávit total brasileiro é com os EUA e 70% do que compramos nos EUA são produtos manufaturados. Fiquei frustrado, durante minha estadia nos EUA, por não dispor de recursos adequados para fazer mais promoção das exportações brasileiras. Ganhei um elogio do senador Suplicy, pelo trabalho nas exportações brasileiras para os EUA, mas, de fato, não mereço. Em relação à China, acho que de- vemos administrar essa relação com muita serenidade, objetividade e pragmatismo. Queria ler para vocês um texto – historicamente impor- tante – que mostra como o mundo muda por vias inesperadas. Ele diz o seguinte: “Pelo rápido desenvolvi- mento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, a burguesia impele todas as nações, mesmo as mais bárbaras para a torrente da civilização. Os preços baixos das mercadorias das grandes potências Ocidentais são a artilharia pesada que derruba todas as Muralhas da China e obrigam os bárbaros, xenó- fobos – mesmo os mais renitentes – a capitularem. Esse fluxo tornou dependentes do Mundo Ocidental os países bárbaros ou semi-bár- baros de partes remotas do mundo, os povos agrícolas do Oriente em contraposição aos povos industri- alizados do Ocidente”. Vejam a ênfase, nessa descrição do Ocidente entrando na China, com produtos baratos, praticamente impondo-os à população. Esse texto é do Mani- festo Comunista de Marx e Engels, de 1848; vejam, senhores, como mudou o mundo. Alguns fatos das últimas semanas dão uma idéia do surgimento impressionante da China no plano internacional. Eles ultrapassaram o Japão em recursos para pesquisas e desenvolvimento, o comércio externo está em um trilhão e seiscentos bilhões de dólares; a China ano passado teve com os Estados Unidos um saldo comercial de 230 bilhões de dólares, vendeu aos Estados Unidos 290 e comprou 60 bilhões de dólares, uma coisa impressionante, e tem reservas por volta de um trilhão e trezentos bilhões de dólares, 70% aplicados em títulos americanos. Esses dois países, hoje, têm uma relação politicamente complicada, mas economicamente simbiótica. Há histórias inacreditáveis sobre a competição chinesa na África, em Angola, por exemplo, o Brasil está perdendo terreno porque a China está entrando com empréstimos de bilhões de dólares e milhares de trabalhadores a preços vis, para competir com as construtoras e ou- tras empresas brasileiras. Tudo isso mostra que o nosso desafio, hoje, não é mais o que supúnhamos ser – uma complicada e até negativa relação com os países desenvolvidos em geral, Estados Unidos em par- ticular; hoje, o nosso desafio é o da competição no plano internacional, com os países que emergem com força, a China em particular, mas em termos menores e diferentes, também a Índia. Claro que não vamos erigir, aqui, uma espécie de Muralha da China às avessas – para manter a China do lado de fora. Não é possível. Equivocada e prematura-
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