Revista da ESPM - SET-OUT_2007

89 SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M tanto, o investimentodiretoestrangeiroe atecnologianuncaforamtãodinâmicos. Mas os países – talvez como reação a isso–estãotendoumaespéciedereação nacionalista,osgrandes inclusive. E, sem líder, nesse sistema de comércio não há liderança. Parece uma coisameio óbvia mas a verdade é que, sem os Estados Unidos, que exerceram este papel e que hoje está preocupado em manter o protecionismo agrícola por seus 50 estados, isso é complicado; outra coisa quetambémestácomplicandoosistema e explica por que não temos acordo é que o G-20 não é um líder, mas um protagonista, pois representa uma parte dos interesses dos países emdesenvolvi- mento e não consegue, sozinho, fazer o sistemacaminhar.Aberturadecomércio talvez não seja o problema do mundo e, de certa forma, a OMC talvez esteja falando de coisas que não são muito interessantes. Os países estão preocu- pados com crédito, comfinanciamento e infra-estrutura, comapressão logística, com a tecnologia de informação, e isso não se dá na OMC propriamente dita; talvez ela tenha que reformular a própria agenda. Debate-se o fato de que se terá, necessariamente, mais regionalismo se houver menos multilateralismo.Achoquenãoneces- sariamente. Se houver, será algum tipo de “regionalismo cosmético” (de que o nosso Governo parece gostar), ou seja, acordos que se assinam mas que não valem nada, do ponto de vista estritamente comercial, já que foram feitos por razões políticas e não comerciais ou econômicas. Sobre um possível esvaziamento da OMC – se não houver um desfecho positivo – acho que ela não vai se esvaziar e sim cada vez mais se trans- formar num Tribunal; quanto menos você tiver regras claras, mais vai ter que recorrer ao tribunal que será a própriaOMC, como umTribunal para Disputas Agrícolas, por exemplo. Para terminar, onde fica o Brasil? Creio que tudo o que está acontecendo não é bom para o Brasil. Nosso país, infe- lizmente, não tem o impulso próprio de abertura, um impulso próprio para a inserção internacional. Oque vemos como inserção internacional está sendo protagonizado por empresas, por empresários e algumas pessoas que entendem que precisam dessa internacionalização, algumas, inclu- sive por uma razão errada: fogem do Brasil por que acham que aqui é impossível ser empresário – ou quase – coma carga tributária e todo o custo do país. Quando fazem isso, acabam descobrindo outros fatores positivos, vendo que o Ministro Delfim Neto tem razão em dizer que você tem que se internacionalizar – o professor Piratininga também: você precisa se internacionalizar senão você é que será, rapidamente, internacionali- zado. Este poderia até ser o mundo ideal, se o Brasil soubesse o que quer fazer, a dificuldade é um pouco essa. No caso da China, como observou o embaixador Abdenur, o país tem uma definição clara. Nós estamos sofrendo com o que é – em parte – uma inércia negativa, burocrática e regulatória. “Já que não anda, por que não complicar mais?” – e o investidor temproblemas enormes – isso eu vivo todos os dias – clientesme ligame reclamam: “nada coaduna com nada” e eu respondo que “isso se chama Brasil”. Se ainda assim conseguimos atrair investimen- tos, poderíamos imaginar o que seria dopaís se não tivéssemos esses proble- mas. Este poderia ser um momento excelente. Mas, infelizmente vemos que o que não deveria ser politizado, está sendo politizado, tanto interna como externamente, seja a crise aé- rea ou Hugo Chávez. Temas como o comércio e o investimento, temas de relevância econômica, comuma visão estratégica da importância econômica dos sistemas, nisso estamos perdendo porque infelizmente não há uma apreciação clara sobre isso. Dentro do Governo, há confusão entre o que o Ministério da Fazenda pensa, em contraste com o que o Ministério da Indústria e o Banco Central pensam, e o Itamaraty pensa e age inclusive, em termos internacionais. Mesmo do ponto de vista empresarial, quando se consulta o setor sobre tudo isso, a reação é péssima ou ausente. Tratar das relações comaOMC, na verdade, por mais ambiciosos que sejamos, nunca será uma abertura comercial. Sobre salvaguardas contra aArgentina, ou aArgentina aplicando salvaguardas contra o Brasil no Mercosul, com a entrada daVenezuela noMercosul sem pagar preço nenhum, a própria questão do reconhecimentocomoeconomiade mercado para a China (quando sequer os Estados Unidos ou a União Européia têm coragem de conceder esse tipo de aval), nenhuma consulta foi feita à FE- COMERCIO, FIESPouCNI.Oassunto, na verdade, está vencido. Sei que este é um diagnóstico um pouco negativo; mas vimos que hámuita coisa positiva, na perspectiva histórica que oministro colocou, muito já se desenvolveu – e acho que a grande coisa que ainda falta é umpoucomais de visão estraté- gica, que não seja só geopolítica, nem só política ou politizada. Talvez ainda faltem alguns números, que mostrem de forma mais clara os benefícios da inserção do Brasil no mundo. ES PM

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