Revista da ESPM - SET-OUT_2007

96 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2007 Entrevista em crianças, depois da Segunda Guerra, os americanos não ti- nham sido admirados... LAMPREIA – O Brasil não tem como fazer isso, não tem esse con- trole. A Globo faz alguma coisa. Há uns 20 anos, vi, por exemplo, no Teatro Bolshoi, em Moscou, no intervalo do espetáculo, as aten- dentes estavam vendo a Escrava Isaura, fascinadas pela novela brasileira. As novelas brasileiras, o cinema, a música, futebol são os nossos melhores rostos. JR – A França é um país que admira a nossa cultura musical. LAMPRE IA – A França é , de longe, o país que tem mais inte- resse e afeto pelo Brasil – e não é um fenômeno econômico, mas uma fascinação pelo Brasil. JR – De que forma o Brasil po- deria tirar partido dessas parce- rias, valorizá-las? LAMPREIA – Não acho que seja em nível governamental. Sempre se pode fazer alguma coisa, mas é marginal, na periferia, não tem expressão global. O impacto de uma cultura não pode ser administrado por um projeto de governo. Impacto é um Nelson Freire, um Antonio Menezes apre- sentando-se, em concertos. Não há como administrar isso. A visão que se tem do Brasil, no exterior, é parecida com a visão que a própria mídia brasileira tem do Brasil. JR – E como você vê as priori- dades do Brasil – quais as nos- sas oportunidades no processo de globalização? LAMPREIA – A prioridade núme- ro um do Brasil é o desenvolvi- mento econômico – e a supe - ração da pobreza, da miséria que é a bola de chumbo que temos no pé, desde o Império. Tudo mais é em função disso. A partir daí, devemos desenvolver o relacionamento com os nossos vizinhos, é uma questão de geo- grafia – e também com grandes pólos internacionais: os Estados Unidos, os grandes países da Europa e da Ásia, e os países em desenvolvimento, como a China, a Índia, a África do Sul, sem dúvida nenhuma, são parcerias muito importantes. JR – O senhor tem dado aulas aos nossos alunos do curso de Negócios Internacionais. O que tem dito a eles, para enfrentar esse desafio? LAMPREIA – As condições bási- cas, certamente, são um bom equipamento intelectual, fluên- cia em línguas e capacidade, in- clusive, de aceitar esses desafios da inserção no mundo, de ter um compromisso daqui a 48 horas na Austrália e pegar um avião e ir lá, a disposição de sair de suas fronteiras, da sua rua, do seu bairro, da sua família e encarar o mundo. Não é fácil. Tem gente que entra na carreira diplomática e quer apenas viajar – e alguns chegam à conclusão de que não são capazes de administrar isso. Houve um diplomata brasileiro cujo primeiro posto foi Praga. Ele ficou tão infeliz que deco- rou um quarto do apartamento em que morava em uma praia, com l uz i n f ra - ve rme l ha , um balde de areia e uma foto da praia de Copacabana – e ficava lá tomando cerveja... JR – Como aquele livro do Xavier de Maistre, “Viagem à roda do meu quarto”... E como estimular mais jovens a interessar-se pelas carreiras internacionais? LAMPREIA – Hoje, há muito mais oportunidades. Antigamente, para fazer carreira internacional, só entrando para o Itamaraty, não havia outra. Hoje há milhares... E acho que, cada vez mais, os jovens brasileiros estão aptos. Conheço muitos trabalhando em empresas internacionais ou em empresas brasileiras, mas trabalhando no exterior. “FICOU TÃO INFELIZ QUE DECOROU O QUARTO COMO A PRAIA DE COPACABANA.” “À BEIRA DO LAGO LÉMAN, HAVIA 10 MIL BRASILEIROS COMEMORANDO.” ES PM

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx