RESPM_MAR_ABR 2016

ponto de vista Revista da ESPM |março/abril de 2016 114 Giancarlo Summa Preservarnossofuturocomum: umimperativomoral eeconômico N odia22deabril,195paísessereuniramnasede das Nações Unidas para assinar o Acordo de Paris, elaboradonoanopassado, durantea21ª ConferênciadasPartesdaConvençãoQuadro dasNaçõesUnidas sobreMudançadoClima (UNFCCC). O tratadoéumainiciativarobustaquebuscaconteraelevação datemperaturamédiaglobalaumnívelbemabaixodos2ºC. Apesar de histórico, o compromisso dos governos só conseguirá impedir odrástico aquecimentodoplaneta se todasas sociedades seengajaremna lutacontraasmudan- ças climáticas. A redução das emissões de gases do efeito estufa e a transiçãopara uma economia de baixo carbono vão exigir esforços consideráveis não apenas dos Esta- dos, mas principalmente do setor privado e empresarial. Afimdeevitarqueosecossistemasentrememcolapso,é evidenteanecessidadedeabandonarosmodelosatuaisde produçãoeconsumo,aindademasiadamentedependentes decombustíveis fósseis. Embora seja frequentementedes- crita como arriscada e pouco lucrativa, a apostanodesen- volvimento sustentável e nas energias renováveis é fun- damental e pode abrir novas oportunidades de negócios. Em2015, aOrganização Internacional doTrabalho (OIT) calculou que 60milhões de empregos poderão ser criados comeconomiasdebaixocarbono,casopolíticasdeincentivo sejamimplementadas.DadosdoBancoMundialestimamque estratégias de desenvolvimento orientadas para a preven- çãoeadaptaçãoàs transformaçõesdoclimapoderãoevitar que100milhõesdepessoasenfrentemapobrezaextrema. Como já afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, BanKi-moon,onegócioverdeéumbomnegócio.Noentanto, paragarantirumfuturomaisseguroparatodos,serãoneces- sáriosmais investimentos. De 2004 a 2015, os recursos aplicados emenergias lim- pascrescerammaisdeseisvezes, alcançandoasomaapro- ximada de US$ 330 bilhões no ano passado. Esse valor impressionante, contudo, não é suficiente para realizar uma sólida transição rumo à economia de baixo carbono e garantir que a temperatura global subamenos que 2ºC. Nas próximas décadas, US$ 1 trilhão será necessário anualmente para substituir os combustíveis fósseis e reduzir os riscos dasmudanças climáticas. Para alcançar essa meta, a indústria e o setor financeiro terão de rever seus planejamentos, realocar recursos e colocar a descar- bonização da economia no centro de suas preocupações. Alémde desbravar novas frentes domercado de baixo carbono, esses esforços salvarão vidas e contornarão enormes prejuízos. Segundo onossoEscritóriopara aReduçãodoRiscode Desastres (UNISDR), nos últimos 20 anos 90% de todos os fenômenos naturais extremos estiveram associados ao clima. Fenômenos como ondas de calor, enchentes, tempestades e secasmatarammais de 600mil pessoas e deixaramoutras 4,1milhões feridas, semmoradia ou em situação de extrema necessidade. Somadosaosterremotoseaostsunamis,eventosclimáticos intensosteriamprovocado,nasúltimasduasdécadas,perdas anuaisestimadasentreUS$250bilhõeseUS$300bilhões. Em2015, o anomais quente já registrado emtoda a his- tória desde o início dasmedições no século 19, 350 catás- trofesmatarammais de 22mil pessoas e afetaramoutras 98,6milhões. Prejuízos econômicos foramcalculados em torno de US$ 66,5 bilhões. Esse cenário revela a urgência do combate às mudan- ças climáticas e da adesão do setor privado à luta contra o aquecimentodo planeta — seja pelo imperativomoral que deveriaorientar líderesdepaíses e corporações aproteger os mais vulneráveis e cuidar do nosso planeta, uma vez que ocupam posições privilegiadas para tanto; seja pelo argumentoessencialmenteeconômicodequeécontrapro- ducente ignorar as consequências da ação irresponsável do homemsobre omeio ambiente e a economia. Osdesafiosquetemosàfrenteexigirãodecisõesousadas de governos e empresários, que lançarão omundo numa jornada de esperança oude destruição. OAcordo de Paris é apenas o começo de um longo caminho a ser percorrido para preservar o futuro comumdahumanidade. Comece- mos, portanto, como pé direito. Giancarlo Summa Diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic-RJ) divulgaç Ã o

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